Sempre interessado em personalidades reais capturadas em determinado ponto de uma trajetória singular, o diretor chileno Pablo Larraín (do fantástico “No”) debruçou-se, em sua estréia hollywoodiana, a desvendar as circunstâncias humanas, dramáticas e filosóficas que rondaram Jaqueline Kennedy durante os quatro dias após presenciar o marido –o presidente John F. Kennedy –ser assassinado no fatídico atentado de 22 de novembro de 1963 até o momento de seu funeral e enterro encenado, sob orientação da própria Jackie (como era chamada), de forma a tornar aquele um instante antológico na memória do povo norte-americano.
É notável a compreensão de Larraín, enquanto
cineasta estrangeiro, para elementos que presumimos tão próprios dos EUA, como
sua História pregressa (os pormenores íntimos que a câmera captura são de um
brilho ímpar), seus detalhes mais ínfimos e suas impressões.
Munido de todas as artimanhas que o grande
cinema é capaz de proporcionar, o filme de Larraín acompanha sua protagonista
(vivida com maturidade e astúcia por Natalie Portman, num desempenho, ouso
dizer, talvez até melhor que seu oscarizado trabalho em “Cisne Negro”) em
diferentes ocasiões ao longo daquelas horas: São flagradas as discussões com
assessores e outras figuras (entre elas o irmão, Bobby Kennedy, vivido por
Peter Sarsgaard), muitos ainda incapazes de entender o efeito contundente
daquele momento na História; os diálogos entre Jackie e um sacerdote (o saudoso
John Hurt), carregados de esforço em busca de um significado diante da
ensurdecedora tragédia, bem como flashs
de lembranças Jackie em sua árdua adaptação à rotina na Casabranca, aos olhares
atentos de todo povo americano (que logo adquiriu uma certa obsessão por ela),
e na manutenção de sua relação com John Kennedy e com o peso de ser
Primeira-Dama.
O trecho final acrescenta à esse repertório de
instantâneos pessoais as sequências francamente memoráveis do enterro de
Kennedy, no qual Jackie foi obstinada em recriar as características do enterro
do próprio Abraham Lincoln, também ele, um presidente americano vítima de
assassinato.
Ao contemplar tal história, tal protagonista,
nessa situação específica, Larraín não quer lançar-se numa audaciosa tentativa
de emular o subconsciente norte-americano sob o prisma de uma tragédia
mundialmente conhecida, ele quer, sim, derrubar fronteiras, vislumbrando Jackie
Kennedy e todos os perplexos coadjuvantes que a orbitaram como seres humanos
colhidos num momento aterrador e arrebatador do Século XX.
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