Dentre os diversos e variados filmes entregues pelo diretor e roteirista Lawrence Kasdan entre os anos 1980 e 90 –todos com um elenco estelar que normalmente se repetia –“Te Amarei Até Te Matar” é aquele com as características mais autorais, uma comédia transbordante de humor negro, inspirada, por sua vez, num fato real (!), tão inacreditável que só poderia ser plausível mesmo sob a alegação de que se baseava na realidade.
Dono de uma pizzaria na Pensilvânia, o
ítalo-americano Joey Boca (Kevin Kline, no personagem mais sarcástico de sua
carreira depois de “Um Peixe Chamado Wanda”) se acha o dono do mundo: Mete
forças o tempo todo com a sogra enfezada, Nadja (Joan Plowright), inferniza os
empregados, em especial, o humilde Devo (River Phoenix) e trai abertamente a
esposa, Rosalie (Tracey Ullman).
Quando Rosalie descobre o adultério, com
efeito, não lhe faltam conselheiros caprichosos –Nadja e Devo (este,
secretamente apaixonado por ela) –para lhe incitar a vingar-se. Sem poder se
divorciar (entre os católicos isso é inadmissível), a saída que resta é dar
cabo do marido mulherengo, afinal, estando morto, Joey beneficia muito mais a
todos do que estando vivo.
Ao lado de Devo e Nadja –dois comparsas dos
mais destrambelhados que se pode imaginar –Rosalie dá inicio a um meticuloso
plano de vingança, que inicialmente inclui matar Joey envenenado (!).
Contudo, isso não dá certo (teria o veneno
deixado de funcionar?) e o grupo recorre a, digamos, “profissionais”: Entra em
cena a dupla de pretensos ‘assassinos de aluguel’, formada pelos maconheiros
Harlan e Marlon (William Hurt e Keanu Reeves, ambos impagáveis), tão lesados e
fora da realidade que, em momento algum do filme, sabem onde estão (!).
Após um início claudicante, onde o roteiro
assume ares burocráticos para estabelecer motivações –algo que revela a
disposição acadêmica de Kasdan –“Te Amarei Até Te Matar” não tarda a enveredar
por meio do filme que enfim queria ser, desenvolvendo sua trama toda ao longo
de uma única madrugada, com idas e vindas, trapalhadas, surpresas e
reviravoltas que emulam um senso de humor macabro, muito adequado a um Alfred
Hitchcock, temperado, porém, com um viés ácido que só começaria a ser de fato
experimentado no cinema da década de 1990.
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