Um raro caso de trabalho experimental a ganhar certo reconhecimento dentro do circuito comercial, o filme dirigido por Godfrey Reggio não traz um esclarecimento prévio nem definitivo para o encadeamento de imagens que se sucedem: Aliado ao diretor de fotografia Ron Fricke, e ao músico Phillip Glass, cuja trilha sonora impõe um enérgico comentário às cenas, Reggio estabelece um tratado visual arrebatador e sublime, ao longo do qual inúmeras associações podem ser feitas –embora algumas fiquem, sem dúvidas, mais claras que outras.
Os dois primeiros takes –um caverna de pinturas
rupestre e a ignição de um foguete espacial em câmera lenta –são os únicos que,
em princípio, sugerem a humanidade, a civilização, todas as demais imagens da
primeira parte deste documentário capturam assombrosas sequências do mundo
natural. Panorâmicas aéreas mostram montanhas, rios, campos a perder de vista,
e infindáveis cenários da vida selvagem –a abstração desse segmento remete
imediatamente à imponderabilidade dos trinta minutos finais de “2001-Uma Odisséia No Espaço”.
Não foi à toa, portanto, que algumas das
sequências vistas ao longo deste hipnótico trabalho foram aproveitadas de rolos
não utilizados de “O Iluminado”, do próprio Stanley Kubrick.
Aos poucos, já adentrando seu segundo terço, o
filme de Reggio começa a apresentar as modificações humanas perpetradas na face
do planeta: As estradas, e na esteira delas, as cidades, as grandes metrópoles.
E, a partir daí, a incessante vida moderna, banhada por luzes de neon e um
frenesi que possivelmente passa despercebido àqueles inseridos nesse ambiente.
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