quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Koyaanisqatsi - Uma Vida Fora de Equilíbrio


 Um raro caso de trabalho experimental a ganhar certo reconhecimento dentro do circuito comercial, o filme dirigido por Godfrey Reggio não traz um esclarecimento prévio nem definitivo para o encadeamento de imagens que se sucedem: Aliado ao diretor de fotografia Ron Fricke, e ao músico Phillip Glass, cuja trilha sonora impõe um enérgico comentário às cenas, Reggio estabelece um tratado visual arrebatador e sublime, ao longo do qual inúmeras associações podem ser feitas –embora algumas fiquem, sem dúvidas, mais claras que outras.

Os dois primeiros takes –um caverna de pinturas rupestre e a ignição de um foguete espacial em câmera lenta –são os únicos que, em princípio, sugerem a humanidade, a civilização, todas as demais imagens da primeira parte deste documentário capturam assombrosas sequências do mundo natural. Panorâmicas aéreas mostram montanhas, rios, campos a perder de vista, e infindáveis cenários da vida selvagem –a abstração desse segmento remete imediatamente à imponderabilidade dos trinta minutos finais de “2001-Uma Odisséia No Espaço”.

Não foi à toa, portanto, que algumas das sequências vistas ao longo deste hipnótico trabalho foram aproveitadas de rolos não utilizados de “O Iluminado”, do próprio Stanley Kubrick.

Aos poucos, já adentrando seu segundo terço, o filme de Reggio começa a apresentar as modificações humanas perpetradas na face do planeta: As estradas, e na esteira delas, as cidades, as grandes metrópoles. E, a partir daí, a incessante vida moderna, banhada por luzes de neon e um frenesi que possivelmente passa despercebido àqueles inseridos nesse ambiente.

As câmeras de Ron Fricke capturam momentos, instantes, percepções, pequenos flashes da vida moderna, dramas existenciais aos quais vastos contextos podem ser relacionados. É pois, uma obra que inspira reflexão, um caleidoscópio planejado com o objetivo de despertar o pensamento independente do público e desafiá-lo a encontrar um propósito (ainda que pessoal) para a sucessão de imagens testemunhadas –na verdade o oposto completo da predisposição vigente no cinema comercial.

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