Dentre os indicados ao Oscar 1998 –de onde saiu vitorioso um imbatível “Titanic” –chamava a atenção, justamente por sua simplicidade, um projeto britânico singelo, pequeno, autoral e humilde que, com todas essas características, conquistou o coração da crítica em sua época: A comédia “Ou Tudo Ou Nada”.
Sem astros, sem pirotecnia, sem megalomania ou
situações grandiloquentes, restava a este filme, conduzido com serenidade pelo
diretor Peter Cattaneo, abordar o homem comum em suas fraquezas e inseguranças
cotidianas, e nessa proposta, ele encontrava o árduo caminho para divertir e,
quem sabe, emocionar.
Iniciando sua narrativa com um documentário
sobre a cidadezinha siderúrgica de Sheffield, na Inglaterra, “Ou Tudo Ou Nada”
expõe, com ironia tipicamente inglesa, o otimismo depositado, na década de 1970
e 80, na produção de ferro e aço do lugar, negócio que trará prosperidade
`região. No corte seguinte, quando o filme de fato se inicia, algumas décadas
se passam e a realidade provou-se outra: Sheffield é uma cidadezinha desolada,
suas fábricas já não produzem a contento e seus operários amargam a pobreza, a
falta de ocupação e o desemprego. Entre eles está Gaz (Robert Carlyle, num
personagem simpático, completamente diferente do tipo psicopata que o revelou,
um ano antes, em “Trainspotting”), um proletário com filho para criar, sem
saída para a necessidade de por comida na mesa sem qualquer esperança de ter
dinheiro no bolso; a mesma situação é a de David (Mark Addy), cujo casamento
com Mandy (Emily Woof) não vai tão bem, embora não lhe falte amor.
Desde o início, essa é a grande proposta da
obra de Cattaneo: Um olhar carinhoso e circunspecto sobre o homem comum, suas
aflições e carências –e esse olhar adquire mais particularidade quando entra
nele um elemento de sarcasmo; na penúria, Gaz tem a ideia de juntar alguns
amigos e realizar, para as freguesia feminina da região, um show de striptease.
O detalhe: Enquanto que os strippers profissionais, sarados, bonitões e
definidos realizam um striptease, digamos, parcial –eles tiram a roupa até
ficarem só de cuecas (!) –o grupo de Gaz irá oferecer o diferencial de se
despir completamente; o ‘tudo ou nada’, ou “The Full Monty”, de seu título
original. Assim, o grupo de desesperados strippers de araque, montado por Gaz,
inclue, além dele próprio e de David, o mal-humorado Gerald (Tom Wilkinson); o
magrelo Guy (Hugo Speer), capaz, segundo ele próprio, de executar um salto
mortal numa parede (pura bravata!); o tímido e retraído Lomper (Steve Huison) e
o desamparado Horse (Paul Barber) que é aceito no grupo sobre a alegação de que
suas partes baixas têm tamanho descomunal (outra bravata!).
No entanto, irão esses desengonçados e
envergonhados indivíduos comuns levar essa ideia até o fim? Peter Cattaneo
explora as nuances dessa premissa até o seu desfecho, colocando em foco
justamente aquilo que, com frequência, falta nos blockbusters norte-americanos:
A humanidade de seus protagonistas.
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