terça-feira, 14 de junho de 2022

Rei Davi


 Em 1985, o diretor australiano Bruce Beresford entregou um filme imediatamente anterior ao seu ganhador do Oscar “ConduzindoMiss Daisy”, trata-se do pouco usual épico bíblico “Rei Davi”.

Pouco usual porque já contavam anos que as produções bíblicas já haviam deixado de ser regra em Hollywood, porque a história envolvendo o pequeno Davi não era a mais visada nem mesmo quando tal prática ainda era comum no cinema americano, e porque a própria direção de Beresford, atenta às impressões mais particulares das cenas, trabalhava o tempo todo características peculiares de sua narrativa.

Davi (na fase adolescente vivido por Ian Sears, de “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante”) é um humilde pastor de cabras que decide, mesmo diante da insignificância de seu físico franzino, contribuir na guerra em prol de Israel, por volta do ano de 1000 A.C., sob a bandeira do Rei Saul (Edward Woodward).

Durante o episódio que tornou essa história mais famosa –mas, que não recebe tanta ênfase assim da direção –Davi surpreende a todos, adversários e aliados, ao superar, contra todas as probabilidades, o desafio do gigantesco Golias.

Tal demonstração de bravura o leva a sagrar-se rei (então, interpretado por Richard Gere, quando o personagem se torna mais adulto) usurpando Saul do trono.

Contudo, a realeza adquirida com relativa rapidez não veio junto com sabedoria –no fundamento moral mais específico do filme –e Davi passa a cobiçar a esposa de um de seus cidadãos, a formosa Bathsheba (Alice Krige).

Exalando certa modéstia em si, a obra de Beresford não alça vôos mais ambiciosos de ordem técnica ou artística; é bem atuado, escrito com segurança e dirigido de forma adequada, mas seu resultado enquanto realização cinematográfica encontra exemplo superiores em seus próprios pares e sua reflexão moral (o querer mais do que se tem alheio à humildade daqueles que nada têm) tem pouca contundência o que justifica a pouca ênfase que recebe na narrativa –e olha que a mensagem do “pequeno contra o gigante” embutida no confronto contra Golias foi completamente negligenciada neste projeto! “Rei Davi” é basicamente um épico tímido em seu escopo intimista e um retrato razoável pela própria circunstância ambígua e fabulesca que cerca seu protagonista, posicionando-se assim como um trabalho menor de um diretor cujo talento, em sua evolução como cinema, urgiria obras muito mais relevantes no futuro.

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