A única adaptação até hoje do personagem clássico de quadrinhos concebido por Lee Faulk é um filme morno, mediano e esquecível, contudo, não obstante essas características, ele passou à crônica cinematográfica, com o passar do tempo, como um passatempo razoável e capaz de preservar uma certa eficácia àqueles expectadores que focassem nos elementos certos.
Dirigido por Simon Wincer –diretor de “Tomb
Raider”, “Con Air-A Rota da Fuga” e “Os Mercenários 2” –“O Fantasma” abraça com
vigor e convicção uma aura de cinema-matinê ao contar a história um tanto
exótica e povoada de elementos ecléticos de seu herói, uma figura algo
folclórica na nação africana de Bangala: O Fantasma, um herói uniformizado que
atua em plena selva, é tido como uma entidade sobrenatural que surge para que
se cumpra a justiça. Na realidade, entretanto, trata-se da tradição secreta da
Família Walker: Todos os membros homens dessa família assumem essa identidade,
tão logo o Fantasma anterior morre, preservando a ideia de que ele seja
imortal.
Em meados da década de 1930, o Fantasma é
incorporado por Kit Walker (Billy Zane, de “Jogo Pela Sobrevivência” e “Orlando-AMulher Imortal”) e, no decorrer de suas aventuras –que, como não poderia deixar
de ser, decalcam muitos de seus elementos das aventuras de Indiana Jones –se enamora
da obstinada e curiosa pesquisadora Diana Palmer (Kristy Swanson) que, como
toda mocinha envolvida numa aventura de matinê, se descobre no olho de um
furacão: Vilões malvados (liderados pelo exacerbado Treat Williams, de “Era UmaVez Na América” e pelo disperso James Remar, de “Cotton Club”) compartilham com
ela –ou melhor, disputam com ela! –o objetivo de encontrar as Caveiras de
Touganda, preciosidades dotadas de estranhos poderes guardadas pelos Piratas
Sengh e localizadas numa ilha misteriosa.
Os Piratas Sengh protagonizam, nos quadrinhos,
aquela que é considerada a melhor história do Fantasma já concebida e a
adaptação cinematográfica, espertamente, aproveitou-se do gancho para usá-los
em sua trama. Pena que, no modo como são
empregados, esses personagens surgem mais como um usual apelo de marketing do
que como opção narrativa de fato –da trama urgida por Lee Faulk há bem pouco, o
que confere ao filme uma insolúvel atmosfera de produção genérica, ainda que
preservada em se charme anacrônico.
O resultado final qualitativo de “O Fantasma”
traz assim um erro para cada acerto: Se a bela ambientação de época é
caprichada e salta aos olhos, a trama que ela emoldura carece de inspiração e
originalidade chegando a flertar em alguns momentos (seja de forma involuntária
ou não) com o cinema B; se os personagens, vez ou outra, ostentam
características inspiradas ou promissoras, seus intérpretes, no mais, entregam
atuações básicas, acomodadas e previsíveis (os vilões são inverossivelmente
maus; os heróis aborrecidamente bons), fazendo com que a participação que mais
acaba se destacando, no fim das contas, seja a de uma ainda desconhecida
Catherine Zeta-Jones (antes de “A Máscara do Zorro” e do Oscar por “Chicago”)
na única personagem relativamente ambígua de toda a trama.
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