Durante boa parte dos anos 1980 e 90, os fãs de
filmes descerebrados de ação cultivaram a ideia de ver reunidos em cena alguns
de seus heróis prediletos do período, sendo estes os mais requisitados
Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger.
Isso não ocorreu naquelas décadas –inclusive
porque, durante algum tempo, os dois alimentaram uma espécie de rivalidade
antes de virarem bosn amigos e se tornarem sócios da cadeia de restaurantes
Planet Hollywood –entretanto, os aficcionados tiveram a oportunidade de ver
isso acontecer primeiramente em “Os Mercenários”, que reuniu os dois e mais um
punhado considerável de marombados
daquela época, como Bruce Willis e Dolph Lundgreen.
Dirigido pelo próprio Stallone, o primeiro “Os
Mercenários” não fazia maior esforço além de incitar o público com esse apelo
–o de reunir em primeira mão os astros da pancadaria do passado, no que pode
ser visto como uma das primeiras produções a se valer de um certo saudosismo
dos anos 1980 que desde então dominou inúmeras obras.
Assim, Stallone é Barney Ross, líder de um
grupo de mercenários de aluguel composto por Lee Christmas (Jason Statham,
talvez o único verdadeiro astro de ação da atualidade), Toll Road (Randy
Culture), Gunnar Jens (Lundgreen, que curiosamente se destaca no elenco), Hale
Caesar (Terry Crews) e o ágil Yin Yang (o chinês Jet Li) –além deles, há também
a ponta ilustre de Mickey Rourke como um barman cheio de histórias para contar.
Como era ainda governador da Califórnia na
época do filme, Schwarzenegger não faz mais do que uma participação especial ao
lado de Bruce Willis, numa cena em que encontram Barney em uma igreja –momento
breve que, porém, foi o bastante para fazer a alegria dos apreciadores de
filmes de ação protagonizados pelos três.
Na trama absurdamente genérica, o grupo de
mercenários liderado por Barney deve completar uma missão numa republiqueta
sul-americana. Entretanto, em algum momento a ombridade típica de herói de ação
em Barney e Christmas irá falar mais alto, e eles decidirão destituir o
impiedoso ditador do lugar, vivido com canastrice premeditada por Eric Roberts,
convencidos pela candura da mocinha indefesa da vez, interpretada –veja só
–pela atriz brasileira Gisele Itié.
Embora essa receita soasse infalível, o
tratamento narrativo dado por Stallone –talvez, por essa mesma excessiva
confiança –foi tão genérico e impessoal que quase o filme não passa do ponto de
corte: “Os Mercenários”, ainda que com uma razoável bilheteria, concorreu ao
Framboesa de Ouro de Pior Diretor (!), o que levou os produtores a tomarem um
cuidado maior na continuação.
Em “Os Mercenários 2”, o diretor escolhido foi
Simon West que, tendo no currículo “Con Air-A Rota da Fuga” e o primeiro “Tomb
Raider”, com Angelina Jolie, ostentava vasta experiência e conhecimento no
gênero. De fato, ele contribui com um ritmo vertiginoso, um humor revigorante e
um tremendo entendimento sobre os aspectos que tornam esse tipo de filme
empolgante aos olhos de seus apreciadores –“Os Mercenários 2” é, sem sombra de
dúvida, a produção que, dentre toda a trilogia, tira melhor proveito dos
elementos que usa como chamariz.
Sobretudo no que diz respeito às participações
de astros famosos e veteranos da ação: Além de todos os integrantes do primeiro
filme (à exceção de Mickey Rourke que não voltou), aparecem também Jean Claude
Van Damme, no papel do vilão Jean Vilain (!?!), o lendário Chuck Norris (que
recebe da narrativa um tratamento que faz jus à sua lenda!) e participações
mais estendidas e suculentas de Schwarzenegger e Bruce Willis (com direito à
infindáveis referências aos seus grandes sucessos); de lambuja, ainda temos a
presença do jovem Liam Hemsworth, de “Jogos Vorazes”.
É ele quem, de certa maneira, dá a ignição à
trama, quando um encontro com o perverso Jean Vilain (Van Damme sempre
interpreta vilões num divertido tom canastrão e provocativo) termina mal para o
rapaz, por quem Barney estava se apegando –reza a lenda que originalmente este
seria o destino reservado ao personagem de Mickey Rourke.
Barney e sua equipe, com o auxílio de Trench
Mauser (Schwarzenegger) o rival salvo na cena inicial convertido em aliado,
seguem assim numa missão mais pessoal com o intuito de frustrar os planos
inescapavelmente malignos de Vilain e vingar a morte do jovem..
Aqui, os heróis ouvem a todo o instante que já
estão velhos e obsoletos para seu ofício. Nada mais que provocação: “Os
Mercenários 2” é um dos melhores e mais divertidos filmes de ação dos últimos
tempos e seus protagonistas, astros inquestionáveis do gênero.
É nesse sentido –no do segundo exemplar ter
resultado tão memorável –que o terceiro filme acaba sendo uma curva
descendente.
Os produtores julgaram que chamando um diretor
mais jovem –Patrick Hughes, da comédia adolescente “Imaginem Só” e o faroeste
contemporâneo “Busca Sangrenta” –a energia e o frescor da produção se manteria.
Contudo, “Os Mercenários 3”, se não chega a ser de qualidade duvidosa como o
primeiro filme (que beneficiou-se, sobretudo, da novidade) também passa longe
do equilíbrio e do ajuste acertado do segundo.
Os acréscimos ao elenco (fatores que passaram
assim a definir a série) foram Wesley Snipes (chapa de Stallone desde que
fizeram “O Demolidor”), Antonio Banderas (chapa de Stallone desde que fizeram
“Assassinos”), Kelsey Grammer (o Fera de “X-Men O Confronto Final”), novo
gerente de missões e Harrison Ford, além do vilão interpretado com fleuma e
vigor por Mel Gibson. Por outro lado, o filme não conta com Terry Crews
(reduzido à uma participação ínfima), Chuck Norris e Bruce Willis (esses nem
sequer aparecem).
Há também outro grupo, de integrantes jovens
que estão lá mais para atender aos propósitos da trama.
No encalço de Conrad Stonebanks (Gibson), um
adversário que ajudou a fundar o grupo dos ‘expendables’, Barney se depara com
a necessidade de recrutar integrantes mais novos diante da ineficácia de seus
velhos companheiros. Esses novos mercenários são John Smilee (Kellan Lutz),
Thorn (Glen Powell, de “Estrelas Além do Tempo”), Marte (Victor Ortiz) e a
durona Luna (Ronda Rousey, ex-lutadora de MMA), além do personagem de Banderas,
um histriônico alívio cômico.
É previsível ao extremo o fato de que o jovem
grupo falhará miseravelmente, virando reféns do próprio vilão, fazendo com que
o grupo da velha guarda retorne para salvar a situação –e nisso a direção de Patrick
Hughes encontra suas grandes fraquezas. Ele simplesmente não se satisfaz em
realizar um filme digno de ação amparado nas presenças icônicas de que dispõe.
Quer porque quer preencher suas entrelinhas de significado e com isso espalha
sequências vazias e desanimadoras por todo o filme; como por exemplo o
aproveitamento nada criativo do personagem de Schwarzenegger convertido numa
espécie de ‘voz da consciência’ do personagem Barney, de Stallone, aparecendo
em momentos pontuais sem nunca ter relevância de fato, e esse problema se
estende tanto ao personagem de Harrison Ford (um coadjuvante sem o brilho e sem
a razão de ser que um astro merecia) quanto ao de Wesley Snipes (que, salvo a
cena de abre o filme, passa todo o resto da trama sem qualquer serventia).
Composta por dois filmes medianos e apenas um
verdadeiramente empolgante, a “Trilogia dos Mercenários” ocupa um lugar
especial na memória afetiva de seus fãs mais pelo apelo no conceito em ver
reunidos em cena diversos ícones vivos do gênero pancadaria, do que por sua
execução final.
E tal é o seu apreço que
até hoje alimentam expectativas para uma vindoura “Parte 4”.
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