Tendo o diretor Ted Kotcheff realizado obras, ainda que díspares, que giravam em torno de seriedade e aflição, dotadas cada qual de sua carga austera de alegoria humana e social –tais como “Pelos Caminhos Do Inferno”, “Rambo-Programado Para Matar” e o subestimado “Conflitos No Inverno” –é inesperada sua inclinação para a comédia vista aqui, embora tenha ele também realizado, um ano antes, o ótimo “Troca de Maridos”, uma esperta refilmagem de “A Primeira Página”, além de outros trabalhos humorísticos que ganharam pouca repercussão. Se dá para dizer que “Um Morto Muito Louco” adquiriu alguma notoriedade em sua filmografia –a ponto, inclusive, de ganhar uma continuação pouco relevante anos depois –isso se deve por fatores inusitados, bem ao estilo da década de 1980, que o transformaram num daqueles ‘clássicos da sessão da tarde’.
Os protagonistas, Rich e Larry (Jonathan
Silverman, do hilariante “Confissões de Um Adolescente”, e Andrew McCarthy, de
“Clube da Felicidade e da Sorte”) são típicos personagens urgidos nos anos
1980: yuppies assalariados buscando,
com muito humor e sem nenhuma noção, um lugar ao sol na competitiva Nova York.
Ao mesmo tempo, são também um perfeito contraponto cômico um ao outro: Rich é o
perplexo almofadinha que deseja fazer tudo corretamente, enquanto que Larry é o
inseparável (e incorrigível) amigo bagunceiro e caótico.
Juntos, julgam ter encontrado a chance de ouro
para crescer dentro da empresa e aos olhos do patrão, Bernie Lomax, quando
descobrem uma espécie de desfalque. Contudo, o dinheiro desviado é do próprio
Bernie (interpretado brilhantemente por Terry Kiser) que já tem um plano para
se livrar dos subalternos. Convidá-los para um fim de semana em sua suntuosa
casa de praia, e lá, providenciar para que seus capangas gangsteres dêem cabo
da dupla. Entretanto, os gangsteres têm seus próprios planos: Ao mexer com a
mulher de um dos mafiosos, o próprio Bernie já garantiu sua sentença de morte.
E é o que, de fato, ocorre.
Detalhe: Poucas horas antes de Rich e Larry
aparecerem como seus convidados.
O que se segue é uma piada esticada até sua
exaustão: Com Bernie morto –ainda que os trejeitos congelados do ator Terry
Kiser consigam convencer qualquer um do contrário –resta à Larry e Rich manter
a farsa de que ele continua vivo a fim de livrar o próprio pescoço da culpa e
não estragar o clima constante de festa que predomina na mansão. E do qual
ambos, em especial Larry, desejam muito usufruir.
Poderia se dizer que “Um Morto Muito Louco” é
uma comédia de humor negro, visto que toda sua comicidade gira em torno de um
cadáver, no entanto, sua comédia, hoje transcorridos os cínicos anos 1990, e as
rabugentas décadas que vieram depois (nas quais a comédia, sofreu vários altos
e baixos), preserva ainda, apesar de tudo, um ar inocente, como se tudo, por
mais errado e ilícito que pudesse ser, não passasse de uma grande brincadeira.
E talvez fosse esse mesmo o caso: Não apenas
neste, mas em inúmeros outros exemplares dos anos 1980 que integraram a cultura
pop, a seriedade sempre atravessava um filtro por meio do qual aparentava ser
permitido quase tudo um pouco em nome do entretenimento –o que para muitos, em
maior e menor grau, pode ser chamado ‘politicamente incorreto’.
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