domingo, 3 de julho de 2022

Agente 86


 Há tempos Hollywood tinha interesse em revisitar a bem-sucedida série dos anos 1960 “Agente 86” e, se possível, fazer dela um sucesso de público aos olhos de uma nova geração de expectadores.

A oportunidade surgiu quando a estrela do comediante Steve Carell foi revelada em “O Virgem de 40 Anos” –talentoso, de um humor afiado e de certa maneira sintonizado com o público atual (timing garantido por sua presença também numa outra série, “The Office”, versão americana de um show originalmente inglês), Carell era de fato a escolha perfeita para interpretar Maxwell Smart, o famoso Agente 86; até mesmo parecido com Don Adams, o engraçado intérprete original, ele era!

Na trama, Maxwell Smart, um mero analista e agente júnior do departamento norte-americano de contra-espionagem intitulado C.O.N.T.R.O.L. tem a chance de sua vida para provar seu valor aos olhos de seu Chefe (o ótimo Alan Arkin, que esteve ao lado de Carell em “Pequena Miss Sunshine”), e sair da sombra do superestimado Agente 23 (Dwayne ‘The Rock’ Johnson, num de seus primeiros personagens cômicos e mais distanciados dos sisudos heróis de ação): Promovido a agente de campo, quando outros mais experientes se veem expostos graças aos resultados de uma conspiração, Smart, agora com o codinome de Agente 86, deve executar uma missão tendo por companheira a também não muito experiente Agente 99 (Anne Hathaway, uma bela escalação), onde têm de despistar os perigosos integrantes da C.A.O.S., um sindicato do crime cujo líder, Siegfried (Terence Stamp), cultiva planos de dominação mundial.

Se a sinopse da produção soava genérica em relação a qualquer aventura de espionagem que se preza, isso já era sinal de que o filme dirigido por Peter Segal (de “Ajuste de Contas” e “Tratamento de Choque”) não fazia o menor esforço em seguir por um caminho diferenciado: “Agente 86” abraçava todos os reflexos condicionados e peculiaridades do gênero para, no máximo, tentar lhes atribuir uma sátira que seja original, esquecendo, contudo, que satirizar a realidade (o panorama sócio-político em foco nas premissas de espionagem, no caso) não é nem nunca foi sinal de inovação ou ineditismo. Nota-se certa pretensão em “Agente 86”: Apesar de alguns acertos em sua realização, salta aos olhos o fato de que esta é, essencialmente, uma obra ‘de origem’ –nela, os elementos que definem o protagonista e a mitologia que o cerca vão sendo agregados aos poucos, indicando, portanto, necessidade de uma continuação –e, mais que isso, o objeto central de todo um planejamento (logo à reboque de seu lançamento, foi lançado também, direto para homevideo, um spin-off, “Agente 86- Bruce & Loyd Fora de Controle”, protagonizado por dois personagens coadjuvantes, vividos por Mais Oka e Nate Torrence), o que, dada sua tímida repercussão, não materializou-se nos planos ambiciosos que o estúdio tinha.

A meia hora final chega a agregar um ritmo vertiginoso à mistura, o que termina potencializando muito melhor seu humor de desenho animado e a extrema adequação de Steve Carell, Anne Hathaway e Alan Arkin aos seus personagens –eles se revelam bastante inspirados na caracterização dos papéis de Adams, Barbara Feldon e Edward Platt, respectivamente. Mas, é uma constatação um pouco desfavorável que um filme promissor só venha a encontrar-se de fato em seu terço final.

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