Ainda em meados dos anos 1980, o estrelato do tenor Luciano Pavarotti era tamanho que, em certo momento, algum produtor de cinema teve a ideia de aproveitar seu inconteste carisma e bancar a sua estréia cinematográfica. Quis o destino que tais produtores viessem a ser Peter Feterman e Terry Carr e, desse modo, sob a batuta deles, acaba sendo basicamente essa a ideia que alimenta todo o enredo de “Uma Voz Para Milhões”, ou no original, “Yes, Giorgio”, título com o qual, à propósito, ele foi lançado no Brasil na longínqua Era do VHS.
O Giorgio do título é, obviamente, o personagem
vivido por Pavarotti que, numa manobra sensata dos realizadores, pouco foge da
persona que ele era na vida real –o que facilita muito as coisas para o filme
como um todo, sobretudo porque, como fica bem evidente em pouco tempo de cena,
Pavarotti estava muito longe de ser um bom ator.
Em meio a uma turnê pelos EUA, o tenor italiano
e bon-vivant Giorgio Fini perde a
voz, sem mais nem menos, enquanto está numa estadia em Boston. Eis que, a fim
de solucionar esse problema, ele é instruído a procurar a laringologista Dra.
Pamela Taylor (Kathryn Harrold, de “Jogo Bruto” e “O Preço da Sedução”), e
então, a incontornável manobra do romance maniqueísta cinematográfico acontece:
Os dois se apaixonam!
O roteiro de Norman Steinberg até ensaia a
velha e batida dinâmica do dilema entre a carreira e o coração, na qual o
protagonista se vê dividido em seus sentimentos, pressionado a melhorar e
regressar às atribulações da própria fama ou ficar ao lado de seu grande amor
em detrimento da adoração do público, mas ele o faz com tanta galhardia
(neutralizando qualquer chance de seriedade a fim de não exigir demais do nada
satisfatório traquejo dramático de Pavarotti) que os personagens e o simplório
arco narrativo de sua comédia romântica em nada contribuem para o filme. Já na
época do seu lançamento, os críticos foram unânimes: Não fossem os momentos
musicais inevitáveis nos quais Pavarotti solta o gogó, “Yes, Giorgio” seria um
desperdício completo!
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