Comédias já foram um lugar comum no cinema comercial norte-americano. Não mais. Expectadores e críticos de cinemas nos últimos anos certamente notaram a escassez do gênero nos circuitos comerciais. A razão para isso é, certamente, a cultura do politicamente correto (na qual, todo o assunto abordado, seja ele qual for, é passível de ofender os envolvidos, conforme as palavras erradas forem usadas) e, por consequência, a cultura do cancelamento (na qual, uma vez considerado ofensivo –mesmo que nem sempre o seja –um filme, uma obra, uma pessoa, ou qualquer coisa que seja, é taxada pelos moralistas de plantão à solta pela internet e se torna alvo de injúrias, difamação, rejeição e desprezo). Comediantes não podem mais fazer piada sob o risco de virarem alvo em potencial do próprio tema que abordaram, e com isso, as comédias, em especial, aquelas de humor mais afiado e, de repente, crítico, deixaram de serem feitas.
É, portanto, necessário relembrar, de tempos em
tempos, algumas dessas obras. “As Bem-Armadas”, realizado há dez anos atrás,
não é exatamente um filme tão antigo, porém, conferi-lo hoje já provoca aquela
sensação de estarmos vendo um trabalho realizado numa época diferente. Seu
apelo de público foi –e até hoje continua sendo –a reunião em cena de duas
atrizes que sempre estiveram em estado de graça: A estrela Sandra Bullock (no
mesmo ano em que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo esplêndido
“Gravidade”) e a comediante Melissa McCarthy.(dois anos depois de ser indicada
ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Missão Madrinha de Casamento”, aliás,
repetindo a parceria com o diretor daquele filme, Paul Feig).
Sandra é Sarah Ashburn, agente do FBI cujo
comportamento rígido, reto e certo lhe proporcionou a garantida antipatia da
maior parte de seus pares investigadores. Melissa é Shannon Mullins, policial
da cidade de Boston que, por sua vez, tem –até demais! –o traquejo das ruas: é
desbocada, indisciplinada e mundana. Ambas, mulheres da lei tão antagônicas,
elas são –claro! –colocadas como parceiras pela força das circunstâncias: A
agente federal é designada e seguir o rastro de um misterioso líder do tráfico
de drogas a partir da pista descoberta através de um meliante que a policial
prendeu.
Pouquíssimo disposta a abrir mão de sua
investigação para a Agente Ashburn (até porque seu irmão ex-presidiário, vivido
por Michael Rapaport, está envolvido com os traficantes), a Detetive Mullins
acaba aceitando-a como aliada. Assim sendo, no decurso da tumultuada
investigação e da aproximação assim exigida, as personagens descobrem que, por
trás das incompatibilidades extremas, podem criar um laço de companheirismo e
amizade capaz de sobrepujar todas as diferenças –e o diretor Paul Feig
aproveita assim para explorar cada instante da notável sintonia que Sandra e
Melissa conseguem obter em cena.
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