domingo, 17 de setembro de 2023

Cidade Perdida


 A escritora Loretta Sage (Sandra Bullock) é uma daquelas autoras de best-sellers aventureiros que vive uma vida diametralmente oposta a das heroínas que cria: Doméstica, banal, conveniente, ainda tão mais acomodada devido ao fato de ter enviuvado.

Todavia, como toda a trama previsível e comercial que une aventuras à moda antiga com comédia romântica, Loretta está fadada a experimentar, na vida real, as peripécias que tanto escreveu para suas personagens –e está aí, na diferença ora constrangedora, ora inusitada, entre a ficção vistosa e a realidade inclemente, o grande charme almejado pelo filme dirigido pelos irmãos Adam e Aaron Nee.

Enfurnada em sua casa e pouco interessada no mundo lá fora, Loretta é arrancada de sua inércia por sua ativa e opinativa editora Beth (Da’Vine Joy Randolph) que lhe cobra o mais recente livro de sua série de sucessos literários, todos protagonizados pelo inverossivelmente galante Dash McMahon. Contudo, o sucesso, da forma como veio, não parece satisfazer Loretta –porque ao escrever as aventuras de sua heroína, ela sente estar criando literatura de baixa qualidade e, sobretudo, porque tal sucesso parece vir menos pelo teor esforçado de seus escritos e mais pelo apelo visual das capas, nas quais tornou-se tradição aparecer, caracterizado como Dash, o modelo Alan Caprison (Channing Tatum) que, de fato, arranca suspiros das leitoras.

É no constrangedor evento de lançamento do último livro que Loretta acaba sendo sequestrada pelo jovem, excêntrico e abilolado bilionário Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe) destinada a fazer parte de um plano tão estranho quanto ele: Ajudá-lo a decifrar o paradeiro da mítica Coroa de Fogo, relíquia de uma cidade perdida localizada em uma ilha no Oceano Atlântico que, à propósito, é citada no mais recente livro de Loretta.

Com Loretta em perigo, resta à Alan contratar o aventureiro da vida real Jack Trainer (Brad Pitt, numa participação hilária) para fazer o que, em tese, seu personagem faria: Resgatar a moça em perigo e salvar o dia.

Contudo, diante de desdobramentos cada vez mais improváveis, Alan e Loretta veem-se sozinhos em meio à selva da tal ilha, perseguidos pelos capangas sem-noção de Fairfax e levados, pelo súbito faro arqueológico redescoberto de Loretta, a seguir o rastro de pistas que podem levar à Coroa de Fogo –e à diversas armadilhas também.

Paradisíaca, frenética e pontuada de lances cômicos tanto quanto de ganchos nem sempre oportunos para o romance, “A Cidade Perdida” apesar do fato incômodo de não entregar nenhuma novidade de fato (sua mescla de aventura com romance a lembrar deliberadamente o clássico “Tudo Por Uma Esmeralda” remete imediatamente à ‘sessão da tarde’) funciona graças às suas espirituosas presenças do elenco, em especial, seu par central: No papel do herói romântico em potencial, Channing Tatum surpreende, revelando inesperadas doses de vulnerabilidade e hesitação –e encontrando justamente aí, um engraçado diferencial para o seu personagem –já Sandra Bullock escuta o tempo todo (em especial das farpas que saem da boca do desagradável vilãozinho) que está velha demais para esse tipo de aventura. Pura provocação –ela está linda, e sua personagem, divertidíssima!

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