De tempos em tempos, o cinema independente norte-americano se sai com uma obra verdadeiramente diferente e desconcertante. Se há parâmetro para “Sasquatch Sunset” do que já foi feito no cinema moderno, certamente seria a primeira parte de “2001-Uma Odisséia No Espaço” –intitulada “A Aurora do Homem” –o filme “Guerra do Fogo” e o pseudo-documentário “O Elo Perdido”. Em todos eles, há uma retrato de estágios pré-históricos do ser humano, onde atores imersos em uma prodigiosa maquiagem desaparecem para dar lugar à criaturas assombrosas em sua autenticidade. Se nos demais exemplos tínhamos variações entre macacos e homens das cavernas, aqui, no filme dirigido por Nathan Zellner e David Zellner, e co-produzido por Ari Aster, temos uma família de Sasquatchs –para quem não sabe, o Sasquatch é um criatura lendária, um símio gigantesco com propriedades humanas supostamente habitante de áreas remotas entre os EUA e o Canadá, também conhecido como Pé Grande.
Embora sua existência nunca tenha sido
comprovada, o filme acompanha, durante cerca de um ano (e dividido em capítulos
que levam o nome das estações, “Primavera”, “Verão”, “Outono” e “Inverno”), num
tom a um só tempo lírico e documental, a jornada de vida de toda uma família
dessas criaturas, composta de uma fêmea e três machos. A fêmea é vivida por
Riley Keough (de “Mad Max-Estrada da Fúria”), os machos dividem-se entre o Alfa
(Nathan Zellner, um dos diretores), frequentemente interessado somente em se
alimentar e acasalar (!), e os outros dois, interpretados por Jesse Eisenberg e
Christophe Zajac-Denek (esse último, talvez, seja um filho já crescido da
fêmea).
O filme prescinde de diálogos, narração em off ou qualquer informação falada, são
as imagens e a encenação naturalista que contam a história. Em “Primavera” testemunhamos
o avanço a esmo dos quatro Sasquatchs pelas florestas, à procura de comida e
ocasionalmente abrigo. É numa súbita imprudência de Alfa que ele se depara com
um puma, e acaba trucidado –após sua morte, os Sasquatchs demonstram curiosa
inclinação humana ao enterrá-lo numa espécie de cova.
Em “Verão”, os três restantes seguem uma
peregrinação nômade até começarem a se aproximar da civilização humana –suas
reações com a descoberta de uma estrada asfaltada, por exemplo, é um momento
carregado de assombro e escatologia (os Sasquatchs gritam, mijam e defecam
tentando demarcar seu território!). Na beira de um rio, ao se ocupar
inadvertidamente com um tronco de madeira ali deixado, um deles (aquele vivido
por Jesse Eisenberg) acaba preso sob as águas, o que, a despeito dos esforços
dos outros dois em libertá-lo, acaba levando-o ao afogamento e à morte.
Em “Outono”, a fêmea dá à luz um filhote, fruto
dos interlúdios experimentados com Alfa durante a primeira parte. E em
“Inverno”, esses membros sobreviventes do grupo se deparam com cada vez mais
proximidade e perigo (embora eles não se deem conta) das áreas habitadas pelos
humanos, cujos utensílios e indícios encontrados aqui e ali, despertam reações
desconcertantes nas criaturas.
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