domingo, 16 de março de 2025

A Face Oculta do Mal


 Mais uma pérola do cinema australiano, “Gone”, lançado em 2007, é uma realização violenta, econômica e enxuta que esconde, por detrás de uma muralha de empolgação juvenil e êxtase frenético, um estudo cada vez mais asfixiante das engrenagens psicóticas capazes de sabotar os relacionamentos entre os mais desavisados. Como em muitos casos exemplares da ficção (e outros até decorridos da vida real) a ilusória sensação de segurança dos mais incautos –tal qual “Violência Gratuita” –permite a aproximação de predadores existenciais, em nada mais interessados além de infligir dano às vidas alheias.

O mochileiro Alex (Shaun Edwards) está em um percurso pelas cidades australianas quando cruza-se com o norte-americano Taylor (Scott Mechlowicz, de “Eurotrip-Passaporte Para A Confusão”). Inicialmente a amizade é instantânea: Taylor se mostra camarada, solícito e uma boa companhia nas mais diferentes situações –sugere um lugar para Alex pernoitar; providencia um encontro casual com duas garotas bem despachadas; oferece carona no dia seguinte; e revela-se um bom companheiro para os momentos de diversão.

Não enxergando nada de errado, Alex deixa-se levar. Ele vai junto de Taylor, a bordo de seu veículo, que sem ele notar, o acompanha rumo a seu objetivo: Rever a namorada Sophie (Amelia Warner, de “Contos Proibidos do Marquês de Sade”) e com ela prosseguir viagem.

É a partir do momento em que conhece Sophie que Taylor começa, aos poucos, a demonstrar sua verdadeira natureza. Manipulador, ele cria pequenos subterfúgios que se transformam em atritos entre Sophie e Alex, levando a harmonia entre o jovem casal a desaparecer.

Numa narrativa de conotações clássicas no gênero de suspense, as facetas maquiavélicas de Taylor nunca são evidentes demais a ponto dele ser desmascarado –somente Alex (um tanto quanto tarde demais) e o público acabam ficando cientes desse lado psicopata dele –ou a ponto de justificar que Sophie e Alex o deixem de lado e se livrem dessa complicação. Isso porque, valendo-se de expedientes muito comuns no cinema australiano –a circunstância da qual os personagens principais nunca conseguem se desvencilhar –o diretor Ringan Ledwidge realiza um suspense objetivo e sucinto em sua condição de baixo-orçamento, asfixiando o público com um progressão que nunca cessa, tendo como pano de fundo, as paisagens áridas do outback australiano –cujos tons amarelados (a lembrar o cultPelos Caminhos do Inferno”) contribuem muito para a sensação de desconforto gradualmente soterrar o clima descontraído e festivo do início.

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