O Loki que vemos como protagonista desta primeira temporada de sua série individual, lançada em 2021 pela Marvel Studios, não é o Loki que vimos nos três primeiros filmes do Thor (embora ainda brilhantemente interpretado pelo mesmo ator Tom Hiddleston); aquele Loki morreu pelas mãos de Thanos, como visto em “Vingadores-Guerra Infinita”. Este Loki, na verdade, trata-se de uma variante (um termo que a série usará à exaustão) –uma outra versão vinda de uma realidade alternativa. Melhor esclarecendo: A trama paralela deste Loki (que os seis episódios sensacionais desta primeira temporada tratam de descortinar) se inicia na cena de “Vingadores-Ultimato” na qual, quando Tony Stark se atrapalha e deixa o Cubo Cósmico cair aos pés de um Loki aprisionado logo após os eventos de “Vingadores”, este junta a Jóia do Infinito do chão e, num piscar de olhos, consegue escapar, dando origem assim à premissa desta série.
Eu posso apenas supor a confusão com que
adentraram, aqui, expectadores que não chegaram a assistir os filmes anteriores
da Marvel, que explicam detalhadamente toda a trajetória que levou Loki à
protagonizar sua própria série –embora seja bastante improvável hoje haverem
pessoas no público completamente alheias aos filmes da Marvel Studios... Uma
vez em liberdade, Loki –sempre lembrando, este personagem não acompanhou os
eventos presentes em “Thor-O Mundo Sombrio” ou “Thor-Ragnarok” –descobre que é
uma anomalia, uma variante. Sua escapadela originou uma nova linha temporal, e
existem seres incumbidos de corrigir esse tipo de lapso, são os agentes da AVT
(Autoridade de Variância Temporal) que vivem patrulhando o fluxo do tempo
impedindo que eventos improváveis deem origem à novas realidades alternativas,
preservando assim uma única e sagrada linha do tempo.
Uma vez capturado na AVT, Loki ganha uma
inesperada chance de redenção: Ir além do ingrato destino que é perecer nas
mãos de Thanos e, de repente, até conhecer cara à cara os misteriosos Guardiões
do Tempo (criadores onipotentes da AVT), se colaborar com o Agente Mobius (Owen
Wilson, em ótima sintonia com Hiddleston) numa investigação. Ao que parece, uma
variante do próprio Loki –uma versão estrategista, obstinada e feminina, vivida
por Sophia Di Martino (de “Yesterday”) –está criando problemas para a AVT,
disposta a sabotar a linha temporal sagrada. Em sua astúcia, somente um Loki,
presume Mobius, é capaz de achar o paradeiro de outro Loki.
É claro que, como todo enredo a reunir
elementos de investigação e mistério (ainda que temperados com a fantasia e a
ficção científica peculiares da Marvel), em “Loki” nada é aquilo que parece, e
os rumos das investigações de Mobius e Loki irão revelar segredos obscuros
guardados dentro da própria AVT, muitos deles personificados na sisudez
ameaçadora da Juíza Renslayer (a excelente Gugu Mbatha-Raw, de “Nos Bastidores da Fama”). Também irão revelar que não é exatamente a personagem de Sophia Di
Martino a antagonista da série, mas sim o enigmático personagem de Jonathan
Majors, chamado Aquele Que Permanece.
Contratado pela Marvel Studios, como todo mundo
bem sabe, para dar vida à Kang, O Conquistador, o novo vilão que desempenhará,
nesta nova fase, o papel feito por Thanos nas fases anteriores, Jonathan Majors
não surge, aqui, como o antagonista definitivo que dará as caras dentro em
breve (ele reaparece, como Kang, de fato, em “Homem-Formiga &
Vespa-Quantumania”), mas sim como uma variante devidamente posicionada à fim de
manter um mínimo de controle diante da ameaçadora possibilidade de um
multiverso emergir de um descuido na manutenção do tempo. A série “Loki”,
portanto, como se pode perceber, é fundamental para os pontos de partidas de muitos
acontecimentos que se sucedem nas obras posteriores da Marvel –entre elas, “Doutor Estranho No Multiverso da Loucura” e “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa”, ambos
a tratar das complexidades do multiverso. Diferente do contexto mais simples a
envolver Thanos, este personagem traz consigo toda uma circunstância intrincada
e fascinante que aparenta se estender para inúmeros filmes futuros, e o ator
Jonathan Majors não nega fogo entregando uma atuação minimalista, raivosa,
cheia de petulância e inteligência.
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