quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O Mundo Fantástico de Oz


 Livremente baseado nos livros “The Marvelous Land of Oz” e “Ozma of Oz”, este “O Mundo Fantástico de Oz”, lançado em 1985 e dirigido por Walter Murch (diretor de som de “Star Wars” e montador de “O Paciente Inglês”) ousou dar continuidade ao clássico “O Mágico de Oz”, quarenta e seis anos depois do filme original. Numa característica que remete curiosamente algumas obras infanto-juvenis daquela década de 1980 de então –e que, à sua maneira, estavam um pouco presentes no clássico de 1939 –o filme de Walter Murch potencializa de forma quase alarmante o teor macabro, obscuro e profundamente fatalista que já se anunciava no filme de Victor Fleming, transformando as continuações das aventuras da menina Dorothy (uma ainda jovem Fairuza Balk, ocupando o lugar de Judy Garland com alguma propriedade) numa sucessão de desventuras sombrias e cruéis –muito do filme, sobretudo, sua primeira parte, acaba lembrando bastante o pouco usual “Sucker Punch-Mundo Surreal”, de Zack Snyder.

É nesse entrecho que vemos Dorothy ser levada à uma clínica por sua tia Em (Piper Laurie, de “Carrie-A Estranha”) que acredita serem alucinações as histórias que sua sobrinha não para de contar envolvendo o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde, bem como todos os eventos ocorridos em Oz. O médico propõe uma terapia de choque da qual Dorothy escapa devido à uma tempestade que lhe permite fugir do lugar e ao auxílio de uma garota loira misteriosa (Emma Ridley).

Assim, acompanhada da galinha Billina –e não mais do cãozinho Totó –Dorothy retorna para Oz e lá encontra tudo de pernas para o ar: A estrada de tijolos amarelos foi destruída e na Cidade Esmeralda, agora em ruínas, prevalece um clima de desolação trazido por seu mais recente governante o impiedoso Rei Nome (Nicol Williamson que, num recurso similar ao do filme de 1939, interpreta também o médico da clínica, equacionando personagens em Oz e no ‘mundo real’). Na ausência de seus antigos amigos (o Espantalho foi sequestrado enquanto o Homem de Lata e o Leão Covarde foram convertidos em pedra!), Dorothy arruma novos aliados com características igualmente peculiares: O robótico Tik-Tok (voz de Sean Barrett, de “Labirinto-A Magia do Tempo”) e o estranhamente medonho Jack Pumpkinhead (voz de Brian Henson).

Ao lado deles, ela busca escapar do castelo da vilanesca Princesa Mombi –uma personagem capaz de alternar entre dezenas de diferentes cabeças (!), mas que adota, na maior parte do tempo, as feições da atriz Jean Marsh (de “A Troca” e “Willow-Na Terra da Magia”) –e seguir em uma viagem rumo ao país do Rei Nome, onde o Espantalho estaria aprisionado a fim de salvá-lo e também recuperar os preciosos sapatinhos de rubi que pertenceram à Dorothy e que trazem um grande poder mágico capaz de colocar todas as coisas de volta aos seus devidos lugares, assim como a benevolente Princesa Ozma (também vivida por Emma Ridley, a mesma garota da cena no hospital) de volta ao trono da Cidade Esmeralda.

Realizado, por mais incrível que possa parecer, pelos Estúdios Disney (detentores dos direitos sobre os livros de Frank L. Baum desde 1954), e consideravelmente mais sombria, realista e obscura que a produção de 1939, “O Mundo Fantástico de Oz” não tem sequências musicais como o clássico ao qual dá continuidade não oficial. Pelo grau considerável de violência embutido em muitas cenas e por ser uma obra dotada de constante predisposição para perturbar (correspondendo muito mais ao teor dos livros originais), os críticos, na época de seu lançamento nos cinemas, o tacharam de “terror psicológico para crianças”. Esse viés inusitadamente sinistro –que soa exagerado até mesmo em meio à desigual década de 1980 –talvez tenha colaborado para que “O Mundo Fantástico de Oz” tenha cambaleado nas bilheterias, tornando-se com o passar do tempo, uma obra incontornavelmente cult. De fato, não há como expectadores convencionais comprarem sem ressalvas a mescla estranha e desconcertante de pesadelo surrealista com fantasia infanto-juvenil que é vista aqui.

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