Spoilers são um fenômeno curioso. Há quem odeie recebê-los, preferindo a surpresa de descobrir tudo o que o filme tem a oferecer... bem, durante o próprio filme! Há quem não se importe com eles. Há aqueles que têm tanto prazer em dar spoilers aos outros que o ato de assistir ao filme acaba sendo uma satisfação secundária; eles gostam mesmo é de poder, depois, contar os segredos do filme a quem ainda não o viu. No cinema moderno, com narrativas como as de M. Night Shyamalan e seus finais-surpresa e a acessibilidade de informação da internet, os spoilers se tornaram um perigo para quem almeja uma experiência cinematográfica absolutamente pura, despida de interferências.
No caso de “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa”,
aqueles expectadores que não forem conferir o filme em seus primeiros dias de
exibição nos cinemas (na verdade, até mesmo eles!) correm o risco de receber
uma avalanche de spoilers. Terceiro longa-metragem da trilogia solo do
Homem-Aranha desde que ele passou a ser interpretado por Tom Holland e a
integrar o Universo Marvel Cinematográfico –além da participação em outros
filmes –“Sem Volta Para Casa” chega tão carregado de novidades espantosas e
eletrizantes, tão repleto de momentos planejados com o objetivo de serem inesquecíveis
e, ao mesmo tempo, tão sensacional e embriagante em seu ineditismo e empolgação
que representa um desafio para qualquer um chegar às salas sem saber nada sobre ele.
Iniciando arrojadamente na cena pós-créditos
com a qual encerrou (sem muito encerrar...) a trama de “Homem-Aranha Longe de Casa”, “Sem Volta Para Casa” segue seu protagonista Homem-Aranha\Peter Parker
(Tom Holland) no momento em que foi revelada, em cadeia nacional pelo próprio
J. Jonah Jameson em pessoa (J.K. Simmons), a identidade secreta do herói. Sendo
esta a terceira personificação do personagem nos cinemas (as anteriores foram
vividas por Tobey Maguire e por Andrew Garfield), por vezes o diretor Jon Watts
se viu obrigado a adaptar arcos narrativos diferenciados dos quadrinhos a fim
de não se repetir. No primeiro (“De Volta Ao Lar”), sob forte referência dos
longas de John Hugues, ele acompanhou a rotina escolar de Peter e sua fase no
ensino médio, lutando para desvencilhar-se das obviedades de uma trama (já
contada) de origem. No segundo (o já citado “Longe de Casa”), ele contou uma
aventura descompromissada a girar em torno de férias na Europa. Nos dois casos,
a Marvel Studios enfrentou críticas justamente por fugir das características
que definiam o Homem-Aranha enquanto personagem e que o atrelavam em demasia à
heróis como o Homem-de-Ferro tirando-lhe certa individualidade –a despeito da
ótima atuação de Tom Holland.
“Sem Volta Para Casa” vem para rebater cada um
desses protestos: Ele é tão original, tão ágil e incisivo, tão consciente dos
elementos icônicos que manuseia que provavelmente não tardará a se sagrar como
um dos melhores (ou O melhor) filmes em live-action do Homem-Aranha –e Tom
Holland, seu intérprete mais consistente e definitivo.
O fio narrativo que conduz a esse enredo tão
cheio de surpresas começa quando Peter, farto de ver seus amigos, M.J. (a cada
vez mais maravilhosa Zendaya) e Ned (Jacob Batalon) sofrerem por terem contato
com o Homem-Aranha, resolve procurar a intervenção mística do Doutor Estranho
(Benedict Cumberbath) para que, com um feitiço, ele apague da memória de todo o
mundo que Peter é o Homem-Aranha. Contudo, algo dá errado, e o feitiço mexe com
o conceito que, encerrada a Saga de Thanos com o magnífico
“Vingadores-Ultimato”, deve nortear a próxima saga a conectar os filmes da
Marvel: O Multiverso –já abordado na minissérie “Loki”, da plataforma Disney
Plus. Resumindo: Agora, os vilões vindos de outras realidades alternativas
–como Dr. Octopus e Duende Verde, vividos magistralmente por Alfred Molina e
Willen Dafoe dos mesmos filmes com Tobey Maguire –aparecem na realidade do
Universo Marvel, complicando a vida do herói e ameaçando vidas. São um total de
cinco (já vistos nos trailers): Além de Dr. Octopus e Duende, também o Electro
(Jamie Foxx, num personagem melhor desenvolvido do que foi em “O Espetacular Homem-Aranha 2”), o Lagarto (Rhys Ifans) e o Homem-Areia (Thomas Aden Church).
A união de todas essas pontas soltas é
indicativa do brilhantismo do trabalho de Jon Watts que –se não agradou a
gregos e troianos nos dois filmes anteriores –conseguiu superar-se neste daqui,
entregando um trabalho onde honra seu personagem extinguindo qualquer margem
para questionamentos quanto a sua fidelidade aos quadrinhos, fazendo deste
terceiro filme o arco final onde, em retrospecto, podemos enxergar esta como
uma ‘trilogia de origem’ do personagem, ao mesmo tempo que o coloca numa nova,
inesperada e possivelmente promissora trajetória de vida adulta, sem evitar,
desta vez, os momentos mais sombrios que coloquem à prova justamente sua fibra
moral como super-herói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário