Ao lançar esta continuação seis meses depois de “Jean de Florette”, o diretor Claude Berri não consegue (e nem parece querer) disfarçar sua empolgação, seu deslumbre, com o fato de que era neste filme aqui que ele finalmente queria chegar. É em “A Vingança de Manon” que a trama de entrecruzadas linhas de causa e efeito imaginada por Marcel Pagnol (concebida como um apaixonado presente para sua esposa) finalmente atinge o seu auge, e é aqui também que finalmente aparece a personagem mais forte, estóica e vibrante de toda a história, a Manon já crescida em suas sedutoras formas de mulher, personificada nas curvas absolutamente apaixonantes de Emmanuelle Béart (vencedora do César de Melhor Atriz em 1986).
Cerca de dez anos se passaram desde os eventos
mostrados em “Jean de Florette”. Após a morte acidental de Jean, transcorridos
todos os aborrecimentos acarretados pela falta de água em sua fazenda, os
Soubeyran se tornaram donos da propriedade e, com isso, desbloquearam a
nascente de água que sempre esteve debaixo do nariz do inocente Jean. Com isso
e com a abundância de água proporcionada pela nascente mesmo na região árida de
Provença, Ugolin (Daniel Autieul) e sua plantação de cravos prosperaram. Para
seu tio, o carrancudo Papet (Yves Montand), só resta uma lacuna a ser
preenchida para sua satisfação estar completa: Ver Ugolin, seu único parente no
mundo, casar-se e perpetuar a linhagem dos Soubeyran.
Mas, eis que existe também a jovem e linda
Manon (Emmauelle Béart, uma aparição) que, após a morte do pai, Jean, e a
partida de sua desiludida mãe, tornou-se uma humilde pastora de cabras pelas colinas
da região. Manon sabe –e aos poucos vai adquirindo aqui e ali ainda mais
informações a respeito –que os Soubeyran, Ugolin e Papet, traíram a confiança
de seu pai, simplesmente para adquirirem sua fazenda. Entretanto, o que ela não
sabe é que, pouco a pouco, Ugolin, que a vê fortuitamente pelas colinas (numa
ocasião particularmente inebriante chega à flagrá-la nua tomando um banho de
rio!) vai se apaixonar perdidamente por ela, passando a enxergar Manon, e
somente ela, como a única eleita possível para ser a esposa que Papet tanto
cobra dele.
O destino, contudo, levará Manon a encontrar,
por puro acaso, a nascente principal de toda região –a fonte que leva a água à
todas as demais nascentes das propriedades e ao vilarejo –uma localização
desconhecida por todos. Manon, assim, bloqueia a fonte privando todos da água
cristalina essencial à vida e castigando-os, portanto, pelos maus-tratos e pela
discriminação que seu pai sofreu quando tentou se estabelecer naquele lugar.
A privação do bem precioso da água provoca
notáveis efeitos na população: Eles clamam para Deus o retorno da água e logo
concluem que trata-se do castigo para algum grande pecado que perpetraram, e
com isso, não tardam a recordar do descaso sofrido por Jean de Florette e, em
especial, da atitude mesquinha dos Soubeyran.
É aqui, neste brilhante “A Vingança de Manon”
que o diretor Claude Berri enfim amarra magistralmente as pontas soltas de seu
sublime trabalho: Ugolin é castigado com os severos revezes de um amor não
correspondido, o povoado experimenta todo o sofrimento e as consequências da
seca, do calor e da sede, em retribuição à toda sua discriminação retrógrada do
filme anterior, e principalmente, é aqui que Papet será confrontado, primeiro,
com as consequências punitivas de toda sua personalidade nada amistosa nem
altruísta que guiou seus atos até então, e depois ainda descobrirá, numa
formidável reviravolta final, que tudo poderia ter sido diferente, feliz e
melhor se ele tivesse sido tão somente benevolente.
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