Está certo que a diretora Catherine Hardwicke realizou o primeiro exemplar da “Saga Crepúsculo”, mas ela começou sua carreira como designer de produção em 1986 no cult-movie “Thrashin-Os Skatistas”, de David Winters (um drama juvenil sobre skate que conta com a participação de muitos skatistas famosos como Tony Alva, Tony Hawk e Christian Hosoi), e estreou na direção de maneira promissora com “Aos Treze”, no qual ficou patente sua habilidade para retratar com energia vívida e orgânica as celeumas da juventude. Obedecendo critérios parecidos, “Lords of Dogtown” é seu trabalho mais pessoal e ambicioso.
Em meados dos anos 1970, em Venice Beach, na
Califórnia, um grupo de jovens adolescentes, procura se enturmar no meio local.
Isso significa integrar o bando liderado pelo carismático e avoado Skyp (o
saudoso Heath Ledger, sempre ótimo) que, de início, controlam a praia como os
donos das ondas de surf –o próprio Skyp é dono de uma loja de pranchas, tornada
ponto de encontro pela frequência dos jovens. Entre eles, estão três grandes
amigos, o impulsivo Jay Adams (Emile Hirsch), o vaidoso Tony Alva (Victor Rasuk,
de “Cinquenta Tons de Cinza” e “Stop Loss-A Lei da Guerra”) e o compenetrado
Stacy Peralta (John Robinson, de “Elefante”, interpretando o próprio roteirista
do projeto). Aprendizes de surfista, os garotos têm toda praia de Venice para
surfar mas, com a estiagem sofrida na Califórnia naqueles tempos levando-os,
com a ausência das ondas, a adotar a prática do skatismo, eles têm apenas as
ruas turbulentas e acidentadas do subúrbio para praticar skate. Ainda assim,
são ótimos! É Skyp o primeiro a identificar potencial no grupo: Ele monta uma
equipe meio de improviso –chega a encomendar camisetas com a estampa “Equipe
Zephyr” –e pensando num lucro imediato com a venda de skates e pranchas,
inscreve os jovens numa competição de skate local.
Apesar de alguns atropelos (Tony dá um soco na
cara de um dos juízes e Jay desobedece algumas regras da competição!), Stacy
sai como primeiro colocado –isso porque, dias antes, o próprio Skyp havia
tentado deixá-lo de fora, discriminando-o por ser o único do grupo a
responsabilizar-se com um emprego por insistência do pai.
Junto de vários outros colegas, amigos e
namoradas –entre esses amigos, o afável Sid (Michael Angarano, de “Quase Famosos”) –Jay, Tony e Stacy começam a procurar um local para treinar suas manobras
no skate; uma modalidade que, sem ter sido ainda profissionalizada, não possuía
um local para treinamento. A saída é invadir casas sistematicamente à procura
de piscinas vazias d’água (ou que, na ausência, dos donos, eles mesmos pudessem
esvaziar!), nas quais se torna possível praticar as manobras cada vez mais
audaciosas que eles começam a criar.
A medida que vão galgando níveis do esporte –e,
com sua repercussão, transformando a percepção do próprio skatismo em um
esporte –os assim chamados Z-Boys de Dogtown vão também conquistando fama e
dinheiro, logo saindo debaixo das asas do nada visionário Skyp: Jay, desejoso
de proporcionar uma vida melhor para sua mãe (Rebecca De Mornay) é o primeiro a
se afastar e fechar acordos que iam contra seus princípios, embora sua natureza
indomável o faça voltar para os guetos; Tony, um dos mais auspiciosos, é
contaminado pelas promessas do empresário Topper Burks (Johnny Knoxville) que
passa a agenciá-lo; e Stacy, o último a deixar Skyp, fecha com a fábrica de
skates Gordon & Smith.
A fama seduz a cada um deles, e por sua
juventude, por imaturidade e inconstância diante de uma situação inédita,
ameaça também tragá-los, inclusive, afetando sua amizade: Jay se revolta com os
rumos despidos de despretensão em seu caminho; Tony deixa-se levar pelas
promessas de ser o melhor do mundo (algo que ele chega até a concretizar no
primeiro campeonato mundial de skate), até um acidente envolvendo seu olho
quase cegá-lo; e Stacy busca racionalizar o turbilhão que começa a engoli-los,
incapaz de conciliar esse estrelato meteórico com o que restou de suas vidas
pessoais.
Adotando como linguagem visual uma câmera
inquieta, prodigiosa em acompanhar mesmo as bruscas manobras sobre rodas dos
skates, a diretora Hardwicke confere o dinamismo e a urgência tão adequados à
sua narrativa, compreendendo perfeitamente o tom de euforia que a história
exige em sua primeira parte, a sucessão quase asfixiante de sensações vindas de
todos os lados que define a segunda, e o declínio moral e sentimental que
precede o êxtase que traduz a terceira e última parte.
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