Está aí um assunto que nunca sai de moda. E por
mais que o senso de oportunidade tenha sido perdido (o dito "Dia do
Sexo" já passou) vou aproveitar para divagar um pouco sobre algumas obras
cinematográficas que ousaram romper paradigmas, ousando apresentar cenas de
sexo explícito, quando para a grande maioria do público médio sempre houve uma
segura distinção entre o cinema pornográfico (onde o sexo sempre foi feito pra
valer!) e o cinema, digamos, convencional (com cenas de sexo simuladas).
Alguns trabalhos estão aí para mostrar que...
não era bem assim. Vamos a eles?
O Último Tango Em Paris
Há quem diga que não, que não há sexo explícito
neste filme (uma polêmica que ocasionalmente aparecerá em outros filmes desta
lista), mas ele é seminal quando se trata do assunto sexo + cinema. A ponto de
ser impossível não citá-lo.
A grande questão na época (1973), foi a
presença de Marlon Brando, indiscutivelmente um dos grandes astros do cinema,
num filme disposto a tantas transgressões.
Dizem que o diretor, Bernardo Bertollucci,
queria que pelo menos uma das cenas de sexo entre Brando e a belíssima Maria
Schneider, fosse real. Até hoje, é motivo de debate se ele conseguiu ou não,
mas o quê importa é o filme magistral que dali emergiu.
Visto hoje, após tantas lambanças de Lars Von
Trier, por exemplo, "O Último Tango em Paris" não deve chocar pelas
mesmas razões que chocou o público nos anos 1970 (e que levou filas aos
cinemas), mas ele permanece um filme brilhante, lindo à sua maneira,
sofisticado e despudorado, e capaz daquele raro efeito de manter-se dias e dias
em sua mente após tê-lo assistido.
Ninfomaníaca
E já que falamos de Lars Von Trier, vamos então
tirar o elefante branco da sala.
Quem acompanha a carreira desse controverso
cineasta sabe que o sexo, em seus desdobramentos mais cruéis, é uma de suas
mais caras obsessões.
Com a saga "Ninfomaníaca" (dividida
em dois filmes, mas inicialmente pensada como uma verdadeira maratona de quase
cinco horas!) ele parece ter exorcizado, se não todos, a maioria de seus
demônios.
O elenco famoso (composto por sua
atriz-assinatura, Charlotte Gainsburg, e outros nomes conhecidos como Shia
LaBeouf, Willen Dafoe, Christian Slater...) parece vestir a camisa do diretor,
e encaram (não todos!) cenas visualmente explícitas de sexo, sendo que a mais
surpreendente, provavelmente, é a jovem Stacy Martin, inclusive porquê sua
atuação é uma revelação nesse filme.
Muito foi dito que as cenas, embora pareçam,
não são reais. Que foi feito todo um trabalho digital de pós-produção onde
inseriam os rostos dos membros do elenco nas cenas de sexo executadas por
dublês.
Vendo as sequências contudo fica difícil de
acreditar. Mas...
Outro que, ao lado de "O Último Tango em
Paris" representou uma divisão de águas nesse assunto. O filme do diretor
japonês Nagisa Oshima, escancarou o sexo explícito num filme de arte, dirigido,
atuado, roteirizado e executado com tal esmero e brilhantismo que os filmes
pornôs, em geral não podiam dispor.
Tal obra desafiante é, até hoje, incluída em
listas de grandes filmes do cinema.
9 Canções
O diretor Michael Winterbotton sempre foi
adepto do realismo em seus filmes: trabalhos com o fantástico "Jude"
ou o comiserativo "O Preço da Coragem" mostram um diretor
comprometido a fazer da cena que filma em frente à câmera a mais autêntica
possível.
Era questão de tempo, portanto, que ele
enveredasse por um filme com cenas de sexo explicíto (e olhe que
"Jude" já tem algumas cenas bem impressionantes com uma jovem e bela
Kate Winslet).
Saltam aos olhos a forma despudora com que ele
conduz o casal protagonista, que vive basicamente um romance com altos e baixos
nos subúrbios londrinos.
O quê falta em originalidade no roteiro, sobra
em audácia nas cenas íntimas.
Emmanuelle
Assim como "Tango" e
"Império", outro filme que chacoalhou as percepções de público e
crítica nos anos 1970. Ao contrário dos outros dois, porém,
"Emmanuelle" não conseguiu livrar-se da pecha de filme pornográfico
que adquiriu com o tempo, e que suas risíveis continuações ajudaram a
alimentar. Certamente porquê, no que dizia respeito à suas qualidades
cinematográficas, "Emmanuelle" era um prato cheio para os detratores
de plantão, o quê não era o caso dos primorosos trabalhos de Bertollucci e
Oshima.
Na época, seu sucesso ajudou a consolidar a
atriz Silvia Krytel como uma estrela, mas ela própria pouco trabalhou em filmes
que não tivessem o erotismo como cerne, certamente estigmatizada por seu filme
de maior sucesso.
Oh! Rebuceteio
Não queria encerrar a lista sem um filme
brasileiro. E a relação do sexo com o nosso cinema nacional sempre foi
complicada. Primeiro por conta das incontáveis pornochanchadas que brotaram nos
anos 1970 e 1980, e que, por algum tempo, transformaram a Boca do Lixo numa
quase indústria de cinema.
(Na realidade, essa história merece um grande e
detalhado estudo, mas, vamos continuar.)
Já no meio da década de 80, com a censura
perdendo cada vez mais sua força, e os realizadores dos filmes de pornochanchada
querendo oferecer ao público cada vez mais ousadia, os filmes com cenas de sexo
explícito começaram a aparecer.
"Coisas Eróticas", pelo que se sabe,
é oficialmente o primeiro desse filão, mas até hoje, o mais querido e lembrado
pelos estudiosos é "Oh! Rebuceteio" um trabalho quase de
metalinguagem feito com relativa empolgação pelo falecido diretor Claudio
Cunha.
De fato, as cenas surpreendem e, ao contrário
de muitos filmes que vieram antes, Cunha soube como filmá-las, extraindo o
máximo das atrizes jovens e lindas. Á exemplo dos bons exemplares desse
"gênero" que surgia, Cunha dosou as cenas reais de sexo (muito
reais!) com a trama, e com um acabamento cinematográfico que distinguia sua
obra dos filmes eróticos desleixados e fuleiros que eram produzidos.
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