Um filme lindo. Há uns dois anos atrás, quando
li a obra de Emma Donohue, intitulada aqui no Brasil, “Quarto”, me ocorreu o
filme fantástico que o material poderia gerar. Eu não sabia que já haviam
engrenagens se movimentando para que o filme se tornasse real. E eis que aí
está ele, concorrendo à Oscar e tudo o mais. Provavelmente não vai ganhar, não
pelo menos o de Melhor Filme, que está disputado por outras produções mais peso
pesado.
Mas nem precisa.
É bem provável que “O Quarto de Jack” seja o
melhor dentre todos os indicados. Tenso, intenso e impactante, é um daqueles
filmes muito especiais que é impossível não amar. E dois nomes são fundamentais
para esse resultado, essa incrível empatia que consegue despertar no público:
Brie Larson (plenamente merecedora dos prêmios que vem ganhando ao longo da
temporada) e Jacob Tremblay. Ele faz o pequeno Jack que durante boa parte da
trama conta sua própria história.
E que história: Jack nasceu e cresceu dentro de
um quarto que é todo o seu mundo. Os personagens que protagonizam sua vida lhe
são limitados e preciosos. A Mãe (Brie Larson, sensacional). A Cama. A Pia. A
Carabóia. O Armário. A Mesa. A Banheira. A TV. Aos cinco anos de idade, a vida
de Jack se restringe à essas quatro confinadas paredes de não mais que três
metros quadrados. E viver, para ele, significa acordar, tomar banho, comer
sucrilhos, gritar por algumas horas para a Clarabóia (“Para ver se alguém ouve”
diz a Mãe), ver a TV, e voltar a dormir.
De vez em quando, Jack tem que ir dormir no
Armário, nas ocasiões em que o único intruso vindo do mundo lá fora, o Velho
Nick, aparece para deitar na Cama com sua Mãe. Tudo o quê, porventura, quebra
essa rotina intransformável de Jack ganha aos olhos dele uma luz extraordinária
e aterradora. Como quando um pequeno camundongo entra no Quarto; ou uma folha
seca cai no vidro da Clarabóia; ou o assustador Velho Nick deixa com a Mãe um
novo brinquedo (um carrinho vermelho) no dia do aniversário de cinco anos de
Jack.
Logo percebemos: A Mãe é uma jovem de não mais
que vinte anos, e o Quarto é seu cativeiro. O Velho Nick, um dia a capturou
(como ela mesma diz à Jack mais tarde) há sete anos atrás, e Jack vem a ser o
fruto dos abusos que ela sofreu desde então. Mas agora, com cinco anos, Jack já
é capaz de compreender, diz ela, que há todo um mundo lá fora, um mundo que,
visto pela TV, ele julgava ser irreal.
“O Mundo... você vai amá-lo!” diz ela, num dos
inúmeros momentos emocionantes do filme.
Para isso, porém, Jack tem de vencer o medo
estarrecedor que sente de tudo que tem lá fora, pois ele é parte fundamental do
plano que a Mãe elaborou para que os dois consigam finalmente se ver livres.
Um das coisas mais incríveis sobre “O Quarto de
Jack” é que ele não padece daquele velho problema no qual ao ter lido de
antemão o livro que o inspirou, toda a graça e a surpresa do filme adaptado
(ou, pelo menos, boa parte dela) se esvai, como ocorre um pouquinho com
“Perdido Em Marte”. Mesmo tendo lido o livro, e sabendo das reviravoltas da
trama, o filme é envolvente e surpreendente, graças ao trabalho brilhante do
diretor Lenny Abrahamson, e de seus dois intérpretes centrais, os brilhantes
Brie Larson e Jacob Tremblay.
Á eles, meu muito obrigado.
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