quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Quarto de Jack

Um filme lindo. Há uns dois anos atrás, quando li a obra de Emma Donohue, intitulada aqui no Brasil, “Quarto”, me ocorreu o filme fantástico que o material poderia gerar. Eu não sabia que já haviam engrenagens se movimentando para que o filme se tornasse real. E eis que aí está ele, concorrendo à Oscar e tudo o mais. Provavelmente não vai ganhar, não pelo menos o de Melhor Filme, que está disputado por outras produções mais peso pesado. 
Mas nem precisa. 
É bem provável que “O Quarto de Jack” seja o melhor dentre todos os indicados. Tenso, intenso e impactante, é um daqueles filmes muito especiais que é impossível não amar. E dois nomes são fundamentais para esse resultado, essa incrível empatia que consegue despertar no público: Brie Larson (plenamente merecedora dos prêmios que vem ganhando ao longo da temporada) e Jacob Tremblay. Ele faz o pequeno Jack que durante boa parte da trama conta sua própria história. 
E que história: Jack nasceu e cresceu dentro de um quarto que é todo o seu mundo. Os personagens que protagonizam sua vida lhe são limitados e preciosos. A Mãe (Brie Larson, sensacional). A Cama. A Pia. A Carabóia. O Armário. A Mesa. A Banheira. A TV. Aos cinco anos de idade, a vida de Jack se restringe à essas quatro confinadas paredes de não mais que três metros quadrados. E viver, para ele, significa acordar, tomar banho, comer sucrilhos, gritar por algumas horas para a Clarabóia (“Para ver se alguém ouve” diz a Mãe), ver a TV, e voltar a dormir. 
De vez em quando, Jack tem que ir dormir no Armário, nas ocasiões em que o único intruso vindo do mundo lá fora, o Velho Nick, aparece para deitar na Cama com sua Mãe. Tudo o quê, porventura, quebra essa rotina intransformável de Jack ganha aos olhos dele uma luz extraordinária e aterradora. Como quando um pequeno camundongo entra no Quarto; ou uma folha seca cai no vidro da Clarabóia; ou o assustador Velho Nick deixa com a Mãe um novo brinquedo (um carrinho vermelho) no dia do aniversário de cinco anos de Jack. 
Logo percebemos: A Mãe é uma jovem de não mais que vinte anos, e o Quarto é seu cativeiro. O Velho Nick, um dia a capturou (como ela mesma diz à Jack mais tarde) há sete anos atrás, e Jack vem a ser o fruto dos abusos que ela sofreu desde então. Mas agora, com cinco anos, Jack já é capaz de compreender, diz ela, que há todo um mundo lá fora, um mundo que, visto pela TV, ele julgava ser irreal.
“O Mundo... você vai amá-lo!” diz ela, num dos inúmeros momentos emocionantes do filme.
Para isso, porém, Jack tem de vencer o medo estarrecedor que sente de tudo que tem lá fora, pois ele é parte fundamental do plano que a Mãe elaborou para que os dois consigam finalmente se ver livres.

Um das coisas mais incríveis sobre “O Quarto de Jack” é que ele não padece daquele velho problema no qual ao ter lido de antemão o livro que o inspirou, toda a graça e a surpresa do filme adaptado (ou, pelo menos, boa parte dela) se esvai, como ocorre um pouquinho com “Perdido Em Marte”. Mesmo tendo lido o livro, e sabendo das reviravoltas da trama, o filme é envolvente e surpreendente, graças ao trabalho brilhante do diretor Lenny Abrahamson, e de seus dois intérpretes centrais, os brilhantes Brie Larson e Jacob Tremblay. 

Á eles, meu muito obrigado.

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