terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Sangue Negro

Os filmes de Paul Thomas Anderson jamais são fáceis. Corrosivos, densos, pesados até. Sua técnica em muito deve aos trabalhos magistrais de Stanley Kubrick: Lá está aquela sondagem irrestrita da condição humana, emoldurada por cenas de um perfeccionismo técnico que chegam às raias do desconcertante.
"Sangue Negro" é sobre a desumanização cuja ignição é, quase sempre, a cobiça. E se existia algo movimentado pela cobiça eram os primórdios da exploração e extração do petróleo, transcorridos no século XIX, em pleno solo americano.
É lá que um homem rude e determinado inicia sua ardua jornada como perfurador de terras nos Estados Unidos de então.
Anderson começa sua jornada com cerca de vinte minutos de silêncio, onde sequer os personagens expressam grunhidos em resposta ao que lhes acontece, tamanha é a brutalização que, desde já, seu diretor lhes inflige. Inicialmente sozinho na vastidão dos desertos americanos, o personagem de Daniel Day-Lewis (abusando de sua técnica primorosa de atuação) logo prospera e adquire uma equipe de trabalhores, um dos quais inclusive morre em acidente lhe deixando um bebê para cuidar. Os anos vão se passando registrando sua eventual contribuição para o crescimento e formação de toda uma nação enquanto simples homem de negócios, ao mesmo tempo que é mostrada a sua deterioração de caráter, ressaltada no seu relacionamento cada vez pior com o filho adotivo que fica surdo em um acidente,e sobretudo na relação de dependência social e inimizade profunda que nutre com um jovem pastor religioso.
O distanciamento formal que as cenas impõe é de tal forma preciso que nos sentimos esmagados ante a narrativa impiedosa da vida desse personagem, e como ela, ele também se tornará impiedoso, a ponto de praticar atos cada vez mais cruéis.
O plano final de câmera de Anderson (carregado cinismo e de ironia em igual medida) é uma constatação da metamorfose à que o protagonista foi submetido desde o momentos iniciais.

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