Os filmes de Paul Thomas Anderson jamais são
fáceis. Corrosivos, densos, pesados até. Sua técnica em muito deve aos
trabalhos magistrais de Stanley Kubrick: Lá está aquela sondagem irrestrita da
condição humana, emoldurada por cenas de um perfeccionismo técnico que chegam
às raias do desconcertante.
"Sangue Negro" é sobre a
desumanização cuja ignição é, quase sempre, a cobiça. E se existia algo
movimentado pela cobiça eram os primórdios da exploração e extração do
petróleo, transcorridos no século XIX, em pleno solo americano.
É lá que um homem rude e determinado inicia sua
ardua jornada como perfurador de terras nos Estados Unidos de então.
Anderson começa sua jornada com cerca de vinte
minutos de silêncio, onde sequer os personagens expressam grunhidos em resposta
ao que lhes acontece, tamanha é a brutalização que, desde já, seu diretor lhes
inflige. Inicialmente sozinho na vastidão dos desertos americanos, o personagem
de Daniel Day-Lewis (abusando de sua técnica primorosa de atuação) logo
prospera e adquire uma equipe de trabalhores, um dos quais inclusive morre em
acidente lhe deixando um bebê para cuidar. Os anos vão se passando registrando
sua eventual contribuição para o crescimento e formação de toda uma nação
enquanto simples homem de negócios, ao mesmo tempo que é mostrada a sua
deterioração de caráter, ressaltada no seu relacionamento cada vez pior com o
filho adotivo que fica surdo em um acidente,e sobretudo na relação de
dependência social e inimizade profunda que nutre com um jovem pastor
religioso.
O distanciamento formal que as cenas impõe é de
tal forma preciso que nos sentimos esmagados ante a narrativa impiedosa da vida
desse personagem, e como ela, ele também se tornará impiedoso, a ponto de
praticar atos cada vez mais cruéis.
O plano final de câmera de
Anderson (carregado cinismo e de ironia em igual medida) é uma constatação da
metamorfose à que o protagonista foi submetido desde o momentos iniciais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário