Se há algo que este filme ratifica, é o
virtuosismo cada vez mais aplicado de Alejandro Gonzales Iñarritu. Ele pega uma
trama de uma simplicidade gutural e a potencializa em um grande filme sobre
vingança que ultrapassa as duas horas de duração.
Não é o quê ele conta, mas como ele
conta.
A câmera de Emmanuel Lubezki elabora quadro de
um esplendor inédito no cinema em 2015. Poucos foram os filmes capazes de
rivalizar com esse acabamento visual: Puxando da memória, talvez, só “Mad
Max-Estrada da Fúria” e “A Colina Escarlate” são capazes de lhe igualar nesses
termos. Aqui, Iñarritu entrega uma obra completamente distinta de seu trabalho
anterior, “Birdman”. Se o outro filme era uma dissertação sobre as diferentes
percepções da arte e do processo criativo em si, “O Regresso” abandona qualquer
um desses intelectualismos. Á exemplo do que Kubrick fazia, o filme de Iñarritu
contraria e contradiz seu trabalho anterior pela simples mudança brusca de
tema, ambientação e conceito.
Leonardo Dicaprio (numa atuação carregada de
precisão, expressividade e silêncio) é Hugo Glass, caçador e rastreador
veterano da fronteira gelada dos EUA com o Canadá. Em meados do fim do século
XIX, ele e seus conhecimentos soa necessários à uma empreitada que um grupo
de soldados e mercenários pagos empreendem á territórios longínquos e
inóspitos, atrás de carne e couros valiosos. Lá, há muito perigo. Inclusive na
forma de tribos hostis que não hesitam em atacá-los já nas espetaculares cenas
iniciais do filme. Durante a árdua volta para a civilização, Glass é atacado
por um urso imenso, em mais uma cena brilhantemente montada e orquestrada por
Iñarritu. Seus ferimentos indicam morte iminente, e suas condições certamente
atrasarão a tropa, mas o capitão (Domhnall Gleeson) não deseja deixá-lo para
trás, ao contrário do rancoroso Fitzgerald (Tom Hardy, brilhante). Logo
monta-se uma equipe para cuidar dele enquanto a tropa prossegue. Essa equipe
inclui Fitzgerald, e dois jovens, um deles o filho metade indígena de Hugo
Glass.
Ao verem-se sozinhos, as intenções de Fitzgeral
se revelam: Ele mata a sangue frio o filho de Glass, e depois enterra o próprio
vivo, sob a relutante testemunha do outro jovem. Contudo, Glass não morre, e
trava uma odisséia em meio à paisagem inóspita e gelada para procurar e achar
Fitzgerald e consumar o desejo de vingança que queima dentro dele desde
então.
Ainda que seja a mola que
impulsiona o filme e o seu protagonista, a vingança em si não é o cerne de “O
Regresso”. Durante a maior parte de sua duração é o trajeto que Glass fará até
atingir seu objetivo o verdadeiro mote do filme. O grande tema de “O Regresso”
portanto, acaba sendo o embate do homem com a natureza. E é a partir dessas
cenas que o diretor Iñarritu encontra a força de seu filme: Cada tomada é
imbuída de um esforço sem igual de autenticidade e legitimidade técnica para
com a ilustração da frágil condição humana perante um cenário tão lindo e tão
selvagem.
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