Desde os primeiros takes já é possível perceber
a força narrativa de Denis Villeneuve, o seu comprometimento singular com cada
enquadramento, cada elemento que surgirá em cena, e o modo único como isso tudo
fortalece seu registro cinematográfico à exemplo do que ele já fez nos
poderosos “Incêndios” e “Os Suspeitos” (embora o “Homem Duplicado” também tenh
alguns elementos admiráveis).
Esse vigor é uma das muitas características
notáveis que se percebe neste, e em todos os seus filmes. Aqui, acompanhamos
uma jovem policial do departamento de narcóticos (Emily Blunt, maravilhosa no
papel e no registro contido e sisudo que a personagem exige) tentando fazer a
lei num território inóspito: as áreas fronteiriças dos EUA com o México. Logo
na primeira cena a descoberta estarrecedora que ela faz não só determina os
rumos da história, mas impõe o próprio tom do filme: Denso, cru, pesado e sem concessões.
Na sequencia, a personagem de Emily é incluída
em uma força-tarefa liderada por um oficial de objetivos e intenções ambíguas
(Josh Brolin, administrando o tom exato de loquacidade e casualidade para
ocultar suas facetas realmente perigosas). Mas o personagem verdadeiramente
intrigante vem logo depois: Alejandro, interpretado com brilhantismo tétrico e
sucintos tons de cinza por Benicio Del Toro. Misterioso, ele é quem catalisa as
atenções da trama e do próprio expectador durante boa parte do filme.
Para resumir, pode-se dizer que “Sicario” é um
mergulho nas trevas sufocantes e escaldantes de um território sem lei e sem
esperança, onde a violência surge como uma forma de expressão. O filme só
empalidece nos momentos em que fica clara, às vezes explícita, a intenção de
referenciar e até superar o que Steven Sodenbergh fez em “Traffic” não só em
termos temáticos (e partindo disso, percebemos então o quanto é significativa a
presença de Benicio Del Toro), mas também no tratamento de cena a cena, sobretudo
o momento final que, tal como na obra de Sodenbergh, volta sua atenção para um
jogo aleatória entre meninos. Não fosse esse fantasma a assombrar o filme de
Villeneuve, ele teria feito um trabalho tão grande quanto os anteriores já
citados.
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