No final da década de 1960, início da década de
1970, o mestre Akira Kurosawa se exilou do Japão onde por anos sofreu a
acusação injusta e existencial de ser o mais ocidentalizado de seus cineastas.
Na Rússia, onde passou a viver, cultivou um
projeto que diz muito sobre seu estado de espírito à época, ainda que carregado
de simbolismo e alegoria, como haveria de se esperar de um grande realizador.
"Dersu Uzala" acompanha a trajetória
de um grupo de expedicionários russos em regiões inóspitas dominadas pela
natureza selvagem. Lá, seu guia, um matuto chamado Dersu, representa para todos
eles o fator que define a vida e a morte. Uma bela amizade se forma entre eles
e Dersu, fortalecida pela gratidão que todos possuem em relação àquele homem
simples, humilde e profundamente conhecedor das armadilhas naturais escondidas
nas florestas, as intempéries traiçoeiras, os animais ferozes, os perigos
ocultos.
Contudo, em uma primorosa cena envolvendo um
tigre, Dersu descobre que sua sina é não mais estar lá: De alguma forma, ele
tornou-se indigno, e deve procurar viver em outro lugar. O capitão, seu grande
amigo, decide acolhê-lo em sua casa, na cidade, mas Dersu é incapaz de se
adaptar ao ambiente urbano, tanto quanto o próprio capitão é incapaz de guiá-lo
adequadamente por um mundo inóspito, ao contrário do que ele fez em meio à
floresta.
Sentimentos complexos se
mesclam nessa obra brilhante de Kurosawa sobre a amargura do afastamento. As
inúmeras e infindáveis relações que se pode fazer à condição do próprio
Kurosawa -bem como as interpretações intermináveis que são possíveis se fazer a
partir disso -são prova de que apreciar este filme é apreciar a própria
grandeza.
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