quinta-feira, 14 de abril de 2016

Dersu Uzala

No final da década de 1960, início da década de 1970, o mestre Akira Kurosawa se exilou do Japão onde por anos sofreu a acusação injusta e existencial de ser o mais ocidentalizado de seus cineastas.
Na Rússia, onde passou a viver, cultivou um projeto que diz muito sobre seu estado de espírito à época, ainda que carregado de simbolismo e alegoria, como haveria de se esperar de um grande realizador.
"Dersu Uzala" acompanha a trajetória de um grupo de expedicionários russos em regiões inóspitas dominadas pela natureza selvagem. Lá, seu guia, um matuto chamado Dersu, representa para todos eles o fator que define a vida e a morte. Uma bela amizade se forma entre eles e Dersu, fortalecida pela gratidão que todos possuem em relação àquele homem simples, humilde e profundamente conhecedor das armadilhas naturais escondidas nas florestas, as intempéries traiçoeiras, os animais ferozes, os perigos ocultos.
Contudo, em uma primorosa cena envolvendo um tigre, Dersu descobre que sua sina é não mais estar lá: De alguma forma, ele tornou-se indigno, e deve procurar viver em outro lugar. O capitão, seu grande amigo, decide acolhê-lo em sua casa, na cidade, mas Dersu é incapaz de se adaptar ao ambiente urbano, tanto quanto o próprio capitão é incapaz de guiá-lo adequadamente por um mundo inóspito, ao contrário do que ele fez em meio à floresta.
Sentimentos complexos se mesclam nessa obra brilhante de Kurosawa sobre a amargura do afastamento. As inúmeras e infindáveis relações que se pode fazer à condição do próprio Kurosawa -bem como as interpretações intermináveis que são possíveis se fazer a partir disso -são prova de que apreciar este filme é apreciar a própria grandeza.

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