quinta-feira, 14 de abril de 2016

Alta Fidelidade

"O quê veio primeiro, a música ou a infelicidade?"
A frase inicial de "Alta Fidelidade" pronunciada pelo melancólico protagonista já dá um tom preciso do filme: Um trabalho afiado, na medida entre o triste e o bem-humorado, onde as angústias do comportamento -sobretudo o masculino -são avaliadas com minúcias, propriedade e insuspeito carinho.
A reunião de talentos foi das mais felizes. Diretor de bons e ocasionalmente aclamados filmes britânicos, Stephen Frears soube transpor a ação do livro de Nick Hornby (um escritor cuja verve pop e espirituosa especializou-se na análise graciosa das tristezas e alegrias de sua geração) para a Chicago -quando originalmente era em Londres. O ator John Cusack, presente em algumas das mais notáveis comédias românticas dos anos 1980, revela uma atuação objetiva e sensata de um jovem adulto dos anos 1990, às voltas com as reflexões daqueles que, segundo ele, foram os "piores foras de sua vida", provocados pelo fora que levou, à pouco, de sua namorada. Essas divagações são temperadas, ampliadas, acrescidas e transfiguradas pelo acréscimo das músicas pop que possuem relação com esta ou aquela emoção suscitada e o filme explora isso magnificamente.
Genial, no seu humor e no seu drama, esse grupo consegue criar um dos mais embriagadores filmes sobre as reflexões doloridas e até patéticas do amor, com um cativante protagonista e sua mania compulsiva de fazer lista, inclusive de músicas. Como compete à uma comédia romântica que se preze, esta tem um final feliz -e ele é luminoso a ponto de deixar qualquer um com um sorriso no rosto -mas, há uma cena a mais, um instante inesperado no fim, onde o personagem de John Cusack vislumbra um possível momento de tristeza no futuro (eles são, afinal, inevitáveis)e prepara, veja só, mais uma lista de músicas para quando esse momento chegar. E o filme acaba deixando o expectador só, reflexivo, e de bem com a vida.

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