“Saímos do inferno, para descobrir que horas
antes havia ali o paraíso.” Li essa frase em uma antiga revista de cinema na
época do lançamento de “Irreversível”, e só muito tempo depois me dei conta do
quanto ela resume com perfeição a obra de Gaspar Noé.
É necessário preparar o espírito para se
encarar “Irreversível”. Como em muitos de seus trabalhos, Noé confronta o
expectador com a exposição das mazelas mais brutais que o mundo cão é capaz de
deflagrar. Aqui, são dois momentos particulares e incapazes de serem
esquecidos: O assassinato atroz, com golpes de um extintor de incêndio direto
na cabeça, de um homem, logo nos quinze minutos iniciais; e. sobretudo, o
estupro da personagem de Monica Bellucci ocorrido pouco depois, cujo flagelo e
a agonia que despertam parecem intermináveis.
Na verdade, a trama de “Irreversível” começa ao
contrário, a exemplo de “Amnésia” de Christopher Nolan. Quando começa, o
registro tortuoso da câmera (e que espelha o estado de espírito dos
personagens) captura a história já no seu final. São dois homens à procura de
alguém e em busca de vingança. Não sabemos ainda porque.
Pouco a pouco percebemos: Cada longo (e
magnífico) plano-sequência é anterior ao que acabamos de ver, fazendo com que a
história vá retrocedendo, e assim, explicando-nos, gradativamente a razão
daqueles momentos infernais do início.
Gaspar Noé reflete assim
que a felicidade (observada nos instantes finais do filme) é tão mais
aterradora quando se tem uma noção plena da tragédia que virá depois dela.Como todos os seus trabalhos, uma obra absolutamente contra-indicada a pessoas que se sensibilizam com facilidade.
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