quarta-feira, 25 de maio de 2016

Irreversível

“Saímos do inferno, para descobrir que horas antes havia ali o paraíso.” Li essa frase em uma antiga revista de cinema na época do lançamento de “Irreversível”, e só muito tempo depois me dei conta do quanto ela resume com perfeição a obra de Gaspar Noé.
É necessário preparar o espírito para se encarar “Irreversível”. Como em muitos de seus trabalhos, Noé confronta o expectador com a exposição das mazelas mais brutais que o mundo cão é capaz de deflagrar. Aqui, são dois momentos particulares e incapazes de serem esquecidos: O assassinato atroz, com golpes de um extintor de incêndio direto na cabeça, de um homem, logo nos quinze minutos iniciais; e. sobretudo, o estupro da personagem de Monica Bellucci ocorrido pouco depois, cujo flagelo e a agonia que despertam parecem intermináveis.
Na verdade, a trama de “Irreversível” começa ao contrário, a exemplo de “Amnésia” de Christopher Nolan. Quando começa, o registro tortuoso da câmera (e que espelha o estado de espírito dos personagens) captura a história já no seu final. São dois homens à procura de alguém e em busca de vingança. Não sabemos ainda porque.
Pouco a pouco percebemos: Cada longo (e magnífico) plano-sequência é anterior ao que acabamos de ver, fazendo com que a história vá retrocedendo, e assim, explicando-nos, gradativamente a razão daqueles momentos infernais do início.
Gaspar Noé reflete assim que a felicidade (observada nos instantes finais do filme) é tão mais aterradora quando se tem uma noção plena da tragédia que virá depois dela.
Como todos os seus trabalhos, uma obra absolutamente contra-indicada a pessoas que se sensibilizam com facilidade.

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