segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Fonte da Vida

Experimentação parecia ser a palavra de ordem no cinema de Daren Aronofsky em seus primeiros longa-metragens: Filmes como “Pi” e “Réquiem Para Um Sonho” não negam a procedência de um diretor faminto por explorar as possibilidades de seu ofício.
De uns tempos pra cá, contudo, essa necessidade de romper com os limites deu lugar à um trabalho mais austero, com características de um cinema mais, digamos, clássico: Prova disso é, inclusive, o bom desempenho junto à Academia de Artes Cinematográficas (que sempre priorizou trabalhos mais tradicionais) de obras como “O Lutador” (duas indicações ao Oscar) e “Cisne Negro” (vencedor do Oscar de Melhor Atriz, e outras quatro indicações). Embora, seu cinema nunca tivesse deixado de ser soberbo.
O meio-termo entre esses dois extremos da carreira de Aronofsky pode ser considerado este “Fonte da Vida”.
Ao mesmo tempo em que é uma trama que guarda algumas audácias formais (em voga naquele período de transição dos anos 1990 para 2000 devido à atividade de jovens diretores de perfil autoral como os Irmãos Wachowsky, “Matrix”, Spike Jonze “Quero Ser John Malkovich”, e David Fincher, “Clube da Luta”), este filme também se aproxima –talvez, por fatores não obstantes à Aronofsky –de um cinema mais comercial, que se permite enxergar uma finalidade mais branda para suas ousadias.
A verdade é que tudo se iniciou com uma história em quadrinhos planejada por Aronofsky (e inclusive lançada, quando o projeto era tido como uma grande produção). Um grande estúdio assumiu o projeto e escalou Brad Pitt para o papel principal, prevendo uma superprodução que trouxesse a mesma natureza inovadora –e sucesso acachapante, provavelmente –do recém-lançado “Matrix”.
Em algum momento, esses planos foram frustrados quando o orçamento mostrou-se a beira do estouro e o projeto adquiriu ares de obra complicada e megalomaníaca.
Com a equipe despedida e a tomada puxada, o diretor reinventou o projeto, agora bancado pelo ramo independente da 20 Century Fox, simplificando um ou outro elemento e enxugando drasticamente tudo aquilo que encarecia a produção, ou seja, as portentosas cenas de ação previstas pelo roteiro.
É assim que chegamos a esta ficção científica estrelada por Hugh Jackman, curiosamente semelhante ao clássico sci-fi de Gregory Roy Hill, “Matadouro 5”, e como ele, dotado de um estranho senso de romantismo.
Sua trama, de início enigmática, mas aos poucos costurada de maneira nem sempre satisfatória, começa com três personagens, em tempos e locais diferentes, mas, compartilhando de um mesmo dilema existencial: Thomás, desbravador espanhol apaixonado por sua rainha que, em meados do século XVI, submerge nas inóspitas florestas sul-americanas atrás da lendária "Árvore da Vida" que pode lhe dar imortalidade (e a mão de sua amada); Tom, renomado cirurgião, consumido pela frustração de ver o amor de sua vida morrendo de um câncer inoperável, a despeito dos recursos disponíveis da atualidade, mas que encontra esperanças de salvá-la na enzima milagrosa extraída de um vegetal da América do Sul; e, por fim, Tommy, um viajante espacial do futuro aguardando pacientemente em sua nave, acompanhado da já moribunda "Árvore da Vida", o momento em que chegará à Shibalba, a constelação mitológica que poderá trazer-lhe vida eterna.
Podem ou não esses três personagens ser todos a mesma pessoa. E essa percepção é paulatinamente encorajada pela narrativa, não apenas porque todos são interpretados (com brilhantismo, diga-se) pelo mesmo Hugh Jackman –e, também ele, se vê cercado pelos mesmos coadjuvantes que revezam-se em diferentes personagens, em especial, Rachel Weisz (esposa do diretor na época) que surge sempre personificando o amor inalcançável –como também os percalços dessa “busca” (distinta para cada um deles, mas no fim, equivalente) surgem como se fosse irônicos reflexos um do outro, como se Aronofsky quisesse fazer um poema no qual suas cenas, pela similaridade de acontecimentos,  rimassem como se fossem estrofes.
O resultado só não encontra o brilho superlativo de outros trabalhos do diretor porque ele insiste num desfecho explicativo e redundante, dando ao grande mistério que cerca à tudo e à todos uma explicação da qual não necessariamente estávamos precisando.

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