A trama do grande clássico é a seguinte:
Dividida por classes distintas (a plebe oprimida e trabalhadora e a elite
hedonista e opressora), a cidade futurista de Metropolis evita o caos e o
conflito de uma polarização de massas graças aos esforços de uma líder em meio
aos trabalhadores pobres: A revolucionária Maria, que deseja ver sua classe
beneficiada por condições mais justas, e no processo, ainda acaba conquistando
o coração do jovem Freder, filho do governante de Metropolis.
Entretanto, num plano insidioso, os empresários
da cidade providenciam, através de um cientista, uma espécie de clone malvado
de Maria, que sairá do controle e irá incitar as classes inferiores, moradoras
do subsolo à uma violenta rebelião.
Carregado de simbolismo, subtexto e metáforas
brilhantes (especialmente notáveis pelo quão antigo o filme é; e pelo quanto
poderia ter envelhecido, mas não envelheceu, seu discurso em torno das
políticas trabalhistas e das engrenagens da luta de classes), este grande
trabalho do mestre alemão, Fritz Lang, datado de 1927, é um marco inestimável
na ficção científica, e por muito tempo permaneceu incólume às tentativas de
reinvenção.
Refilmagens, em geral, servem à duas coisas: Uma,
comparar as distintas visões que dois realizadores de talento possuem do mesmo
material; e outra, ressaltar o valor do filme original, evidenciado por meio da
inferioridade flagrante de uma nova versão, como costuma acontecer em muitos
casos.
Todavia, um resultado completamente diferente
ocorreu em 2001, quando este clássico de Fritz Lang, e seu conceito, foram
transpostos para o formato de anime (uma animação japonesa) pelos mestres
Katsuhiro Otomo (roteiro), criador de “Akira”, Ozamu Tezuka (autor da adaptação
para mangá), criador de “Astroboy”, e Rintaro (direção), realizador de “Galaxy
Express 999”.
Nesta nova a arrojada versão, a história
mantem-se quase a mesma: Existe a mesma divisão de classes, que leva os líderes
da cidade a recorrer à outros artifícios para controlar o proletariado. Em meio
a essas tensões, cientistas criam a menina Tima, uma andróide constituída de
vasta capacidade para conectar-se com toda a rede computadorizada da cidade de
Metropolis –e dela assumir controle.
É por isso, talvez, que Rock, o filho do todo
poderoso da cidade, deseja encontrá-la e destruí-la, a despeito do fato de
Tima, em seu breve contato com os despossuídos do lado pobre de Metropolis,
começar a adquirir insuspeitas emoções, inclusive devido ao vínculo que estabelece
com um jovem e humilde rapaz.
Todavia, como toca ao brilhante cinema de
animação produzido no Japão, a redenção, para toda e qualquer alma, não é um
artigo cujo preço não seja o sacrifício.
Na sua decisão de trazer para o contexto
técnico e artístico de seu próprio ofício a obra-prima de Lang, os realizadores
Otomo, Tezuka e Rintaro, ao mesmo tempo em que conseguiram se equilibrar numa
abordagem respeitosa, até reverente do filme original (que notadamente
influenciou profundamente trabalhos de ambos), também agregaram ao projeto sua
própria visão e estilo, obtendo um produto absolutamente único nos mais
diversos ângulos e considerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário