Filmes como “Deixe Ela Entrar” definem a
carreira de um cineasta.
Para o bem e para o mal, inclusive: Há sempre a
possibilidade (injusta, até) de o público esperar por um trabalho seguinte que
mantenha a mesma excelência, a mesma convergência de fatores, muitas vezes
únicos, que fizeram aquele filme específico brilhar.
E “Deixe Ela Entrar”, sempre ficou bem claro,
era um filme único.
Desnecessário dizer que sua refilmagem
americana foi incapaz de capturar a mesma magia que pulsa, sem maiores
esforços, do original.
E quanto ao seu diretor, o talentoso Thomas
Alfredson?
Ironicamente, ele passou os anos seguintes à
bombástica consagração de seu filme trabalhando, também, na realização de uma
refilmagem.
Todavia, “O Espião Que Sabia Demais” já era um
filme de espionagem antigo (e o público, como se sabe, tem memória
relativamente curta), datado da década de 1970 (na realidade, condensado de uma
minissérie inglesa), e esse projeto abria plenamente espaço para uma
repaginação em todos os âmbitos (artísticos, políticos, cinematográficos).
Enfim, havia a possibilidade de fazer todo um novo filme.
E é isso que o novo trabalho de Alfredson trás:
Toda uma nova percepção, uma nova e empolgante forma de se fazer cinema, tão
inebriante e fascinante quanto o magnífico filme de vampiros que o revelou.
O ano é 1973. George Smiley (Gary Oldman,
hipnótico), veterano recém-despedido do Serviço Secreto Britânico deve sigilosamente
voltar à ativa em face da morte de seu antigo chefe, Control. Sua missão:
rastrear o traidor infiltrado no "Circo" -a cúpula dos membros do
alto escalão do Serviço Secreto- que Control foi incapaz de descobrir, e que
está fornecendo continuamente informações a um misterioso agente russo
denominado Karla.
A falta de pressa com que a trama se desenlaça
exige paciência do expectador médio habituado aos blockbusters de sempre. Esse
detalhe, porém, agrega mais mérito ao filme que une, de maneira curiosa, o
anacronismo (do modo como a produção trabalha seu registro este é, em todos os
sentidos clássicos, um filme de época) à inovação (o tom desigual e a narrativa
cheia de particularidades brilhantes que dão ar completamente renovado ao
gênero).
É, com freqüência, um trabalho cheio de
requinte de Alfredson onde, em meio ao extremo refinamento de seu impecável
elenco inglês (com nomes como Colin Firth, Toby Jones, Benedict Cumberbath, Tom
Hardy e Mark Strong) destaca-se a soberba e minuciosa composição de Gary Oldman.
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