É muito legal ver a iniciativa do diretor Tate
Taylor em manter-se variado ao assumir esta adaptação do best-seller, “A Garota
No Trem”, de Paula Hawkins, ainda que o resultado não iguale seu até então
melhor filme, “Histórias Cruzadas”.
É por sinal, possível enxergar similaridades
entre os dois projetos, especialmente, na atenção e no carinho que o diretor
dedica às personagens femininas.
E também no primor com que escolhe as atrizes
para interpretá-las.
Falta, contudo, certa experiência para Tate
Taylor saber enfatizar as grandes interpretações que surgem em cena –talvez,
por se arriscar num gênero como o suspense, no qual a abordagem do drama não é
o objetivo em si, mas a moldura para transposição da trama para o público, ele
demonstrou menos serenidade aqui do que em outros de seus trabalhos.
De qualquer forma, há algo de irrepreensível na
atuação de Emily Blunt, que interpreta Rachel, uma alcoólatra que passa de trem
diariamente em frente á duas residências vizinhas. Numa, mora a mulher que vive
a vida que antes era sua –ela casou-se com o ex-marido de Rachel e agora está
na casa que era dela. Na outra, mora a jovem que vive a vida idealizada que
Rachel gostaria de viver –ela e seu jovem e vigoroso marido estão visivelmente
apaixonados.
Mas, nem tudo é como a mente fragilizada de
Rachel pensa: a jovem, de nome Megan, interpretada pela linda Haley Bennett (de
“Sete Homens e Um Destino”) com olhos de ressaca tal e qual a intrigante Capitu
de Machado de Assis, trabalha como babá na casa de Anna (Rebecca Fergunson, de “Missão
Impossível-Nação Secreta”), a atual esposa do ex de Rachel.
A narrativa alterna os pontos de vista dessas
três protagonistas –não raro enfatizando o antagonismo entre elas –e alternando
também a cronologia a fim de revelar gradativamente a trama sórdida que involuntariamente
as une.
Até que Megan desaparece, e os indícios logo
começam a apontar para uma tragédia.
Rachel que, em sua atroz instabilidade
psicológica surge como uma das possíveis suspeitas do crime, acredita que viu
algo revelador da janela do trem em suas sucessivas passagens pela frente da
casa.
Esmiuçar tais lembranças escorregadias que
insistem em se dissolver em sua mente para elucidar esse mistério passa então a
ser uma espécie de objetivo na vida de Rachel, quando aparentemente ela não
tinha mais nenhum. Entretanto, não apenas esses segredos haverão de esclarecer
o que aconteceu com Megan, como também farão Rachel e Anna descobrirem a real
verdade acerca do próprio passado.
Livro e filme, portanto, não economizam na
dramaticidade que permeia a vidas dessas três protagonistas. Se o livro vale-se
de inúmeros lances tipicamente literários para tornar a trama envolvente, o
filme –na falta de um meio para recorrer às mesmas manobras –busca por artifícios
mais cinematográficos e termina tropeçando em alguns deles.
É mencionado no making of
que “A Garota No Trem” é “Janela Indiscreta” em movimento, e a referência ao
mestre Hitchcock até poderia engrandecer ainda mais o trabalho de Tate Taylor,
mas ao contrário do mestre, Taylor deixa de lado a sugestão implícita no
promissor ponto de vista expressado no primeiro (e melhor) terço da obra para
sustentar-se, a partir da metade, no folhetim básico, o quê torna seu filme
redundante.
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