Abel Ferrara chega a parecer, em “Os Chefões”,
uma versão mais modesta e menos suntuosa de Francis Ford Coppola (“O Poderoso
Chefão”), Sergio Leone (“Era Uma Vez Na América”), ou até mesmo Martin Scorsese
(“Caminhos Perigosos” e “Os Bons Companheiros”), influências das quais seu trabalho
tira muito emprestado.
E, talvez, por sua natureza ítalo-americana,
seu registro gangster das angústias que remetem a tradições cuja cultura está
do outro lado do oceano, é notável, até mesmo a restrição orçamentária comum ao
tipo de cinema independente que Ferrara realiza nos anos 1990 lhe confere
charme.
Nesta obra cheia de personalidade, a vida
tumultuada de três irmãos envolvidos com negócios escusos da máfia –o mais
velho e austero Ray (Christopher Walken), o imprevisível Chez (Chris Penn, em
grande atuação), e o mais jovem e inconseqüente Johnny (Vincent Gallo) –é
colocada em perspectiva durante o funeral deste último, que foi assassinado.
O universo mafioso da década de 1930 é descortinado
com ênfase nas entrelinhas mais viscerais, nos personagens que disfarçam
psicopatia com requinte (além de Chris Penn, chama muito a atenção a composição
de Benicio Del Toro, antes do Oscar por “Traffic”, para um coadjuvante de muita
relevância) e nos comportamentos propensos à auto-destruição, uma característica
que desperta especial interesse em Ferrara (algo que ele compartilha com o
diretor alemão Werner Herzog. Não foi, definitivamente, por acaso, que Herzog
quis, portanto, refilmar um dos mais cultuados trabalhos de Ferrara, “Vício
Frenético”, mas essa é uma outra história...).
O diretor Abel Ferrara
investiga, com pompa e circunstância, as trajetórias mundanas de crime e
castigo fazendo a narrativa oscilar no tempo e intercalar variados e
complementares flashbacks, sempre acrescentando em sua obra os simbolismos
religiosos –essencialmente católicos –que pontuam sua filmografia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário