Após brilhantes trabalhos em Taiwan
("Banquete de Casamento" e "Comer, Beber, Viver") e ainda
mais brilhantes e celebrados trabalhos já nos EUA (o ótimo "Razão e
Sensibilidade") o chinês Ang Lee, imediatamente antes da consagração com o
assombroso épico "O Tigre e O Dragão", realizou aqui um perspicaz,
competente e fluido estudo do comportamento sexual de uma época que, estranha e
injustamente, não é muito lembrado em meio à suas tantas e excelentes obras.
Como em alguns de seus primeiros e elogiados
trabalhos em Taiwan, a família é o inusitado foco da discussão quase impiedosa
que ele levanta e, embora o sexo esteja presente e onipresente, a direção de
Lee nunca se permite explícita ou deselegante preferindo o caminho da sugestão
e do subtexto dramático.
É o ano de 1973. Num subúrbio de New Canaan, em
Connecticut, EUA, as câmeras de Lee acompanham a história de várias famílias
que vivenciarão diversas experiências diferentes movidas em grande parte pela
ideologia vigente do período, que começava a transformar os comportamentos e
atitudes, promovendo mudanças na sociedade. Ben (Kevin Kline) é casado com
Elena (Joan Allen, ótima), mas tem como amante Janey (Sigourney Weaver).
Já, Elena se vê perplexa com os novos hábitos
–que pendem espantosamente para a promiscuidade –de seu grupo de amizade, que
culminam numa festa com conseqüências desastrosas.
Eles têm um casal de filhos, cada qual com seus
próprios conflitos de ordem sexual e psicológica (ainda que insistam em
esconder essas pulsões na forma de eventuais inconformismos políticos): Paul
(Tobey Maguire) nutre uma atração por uma garota da universidade (Katie
Holmes), mas tem de cuidar-se com um colega traiçoeiro que adora dormir com
todas as garotas pelas quais ele se apaixona; Wendy (Cristina Ricci) adere cada
vez mais à cleptomania enquanto realiza jogos de sedução com os dois filhos do
vizinho, o introspectivo Sandy (Adam Hann-Byrd) e o questionador Mikey (Elijah
Wood).
É curiosamente a analogia
com uma família de super-heróis (o Quarteto Fantástico, na revista em
quadrinhos que o personagem de Maguire lê na cena inicial) que dá o estopim
para que uma série de flashbacks visitem um e outro personagem, tecendo uma
objetiva, delicada e brilhante teia que registra tais comportamentos, e se
propõe, despida de preconceitos e soluções fáceis, à avaliá-los e, quem sabe,
extrair deles algum ensinamento: Troca de casais, perda de controle dos filhos,
bebida. São os temas que entram em pauta de maneira sublime na sempre
competente narrativa de Ang Lee.
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