quarta-feira, 19 de abril de 2017

Tempestade de Gelo

Após brilhantes trabalhos em Taiwan ("Banquete de Casamento" e "Comer, Beber, Viver") e ainda mais brilhantes e celebrados trabalhos já nos EUA (o ótimo "Razão e Sensibilidade") o chinês Ang Lee, imediatamente antes da consagração com o assombroso épico "O Tigre e O Dragão", realizou aqui um perspicaz, competente e fluido estudo do comportamento sexual de uma época que, estranha e injustamente, não é muito lembrado em meio à suas tantas e excelentes obras.
Como em alguns de seus primeiros e elogiados trabalhos em Taiwan, a família é o inusitado foco da discussão quase impiedosa que ele levanta e, embora o sexo esteja presente e onipresente, a direção de Lee nunca se permite explícita ou deselegante preferindo o caminho da sugestão e do subtexto dramático.
É o ano de 1973. Num subúrbio de New Canaan, em Connecticut, EUA, as câmeras de Lee acompanham a história de várias famílias que vivenciarão diversas experiências diferentes movidas em grande parte pela ideologia vigente do período, que começava a transformar os comportamentos e atitudes, promovendo mudanças na sociedade. Ben (Kevin Kline) é casado com Elena (Joan Allen, ótima), mas tem como amante Janey (Sigourney Weaver).
Já, Elena se vê perplexa com os novos hábitos –que pendem espantosamente para a promiscuidade –de seu grupo de amizade, que culminam numa festa com conseqüências desastrosas.
Eles têm um casal de filhos, cada qual com seus próprios conflitos de ordem sexual e psicológica (ainda que insistam em esconder essas pulsões na forma de eventuais inconformismos políticos): Paul (Tobey Maguire) nutre uma atração por uma garota da universidade (Katie Holmes), mas tem de cuidar-se com um colega traiçoeiro que adora dormir com todas as garotas pelas quais ele se apaixona; Wendy (Cristina Ricci) adere cada vez mais à cleptomania enquanto realiza jogos de sedução com os dois filhos do vizinho, o introspectivo Sandy (Adam Hann-Byrd) e o questionador Mikey (Elijah Wood).
É curiosamente a analogia com uma família de super-heróis (o Quarteto Fantástico, na revista em quadrinhos que o personagem de Maguire lê na cena inicial) que dá o estopim para que uma série de flashbacks visitem um e outro personagem, tecendo uma objetiva, delicada e brilhante teia que registra tais comportamentos, e se propõe, despida de preconceitos e soluções fáceis, à avaliá-los e, quem sabe, extrair deles algum ensinamento: Troca de casais, perda de controle dos filhos, bebida. São os temas que entram em pauta de maneira sublime na sempre competente narrativa de Ang Lee.

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