Sem o elemento ligeiramente atrativo de
estabelecer o ponto de partida da história, resta a “Cinqüenta Tons Mais
Escuros” dar continuidade a tudo o que o filme anterior tinha de enfadonho: O
romance claudicante ocasionado por cenas de sexo (cujo teor erótico vai
paulatinamente perdendo a força justamente devido a sua repetição).
Uma pena para o diretor James Foley (que, veja
só, realizou o ótimo “O Sucesso A Qualquer Preço”) que encarou esta barca
furada depois que a diretora do filme anterior, Sam Taylor Johnson, abandonou o
projeto –Foley, nota-se, faz o que pode (ao que parece, ele está também
confirmado na terceira parte, a ser realizada meio que simultaneamente), mas o
filme é tão amplamente desinteressante que nem mesmo o fato de ser ou não fiel
ao livro adaptado (já ele bastante pobre de qualidade) não faz grande
diferença.
Os apaixonados e lascivos Anastassia Stelle
(Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) haviam se separado na cena
final de “Cinqüenta Tons de Cinza”. O novo filme retoma um certo fio narrativo
logo depois disso.
Anastassia, ou melhor, Ana, tem um compromisso
com a exposição fotográfica do amigo José (Victor Rasuk). Será lá onde ela
reencontrará Christian, e retomarão seu relacionamento de onde tinha parado.
Em sua condução prosaica, o novo filme ameniza
involuntariamente todos os aspectos que, no livro, ainda guardavam um mínimo de
intensidade.
Como costuma ocorrer em adaptações literárias,
muitas das passagens são narradas num ritmo errado, deixando tudo muito rápido
e superficial –característica que já aparecia no primeiro filme, mas que se
ressalta neste daqui –resta assim ao diretor Foley destacar a elegância geral e
predominante da produção que, a medida que a duração vai se estendendo, começa
a parecer um comercial televisivo de qualquer coisa, tamanha a beleza e a
limpeza de todos os móveis, figurinos e adereços que parecem em cena.
Uma roupagem luxuosa que não demora a cansar os
olhos.
As cenas de sexo seriam outro destaque se não
fossem tratadas de modo evasivo pela narrativa –sexo no cinema sempre foi uma
coisa complicada, ou trabalha-se com ele de maneira velada e sugestiva, ou
escancara-se suas intenções. É preciso que a direção compreenda os objetivos da
história para que essa abordagem seja narrativamente relevante, caso contrário,
seu excesso pode ser compulsivo, ou sua ausência pode ser frustrante.
Ao longo de seu filme, Foley oscila entre esses
dois extremos: Ele evita as cenas na medida do possível durante a primeira
parte, mas quando se rende a elas (que surgem filmadas com um pudor estético
maior que o do filme anterior) deixa que se sucedam sem critérios.
É uma obra sem conflitos, onde as poucas
inserções de suspense soam desconexas e sem harmonia com o todo: São elas, a
nebulosa perseguição de uma antiga ex-namorada de Christian (Bella Heathcote) à
Ana (resolvida de maneira breve e rasteira); a gradual transformação do novo
chefe de Ana (Eric Johnson), de amigável e sorridente à abusivo e ameaçador
(esse plot, aliás, é um gancho usado para conectar o desfecho à vindoura parte
final); e, por fim, a presença, finalmente revelada, da mulher madura que
iniciou Christian Grey no sexo, e que aqui posiciona-se para Ana como um
obstáculo, Elena Lincoln (um participação especial de Kim Basinger, uma atriz
muito interessante e empática que não merecia marcar presença numa obra tão
equivocada).
Ah, sim, e não vamos nos esquecer da cena do
acidente de helicóptero, feita para acrescentar tensão e dramaticidade ao
enredo, mas tão rápida –e igualmente resolvida de maneira breve e rasteira –que
chega a soar destoante e irrisória.
Como ator, Jamie Dornan faz um trabalho
convencional, deixando com indiferença que a câmera explore seu corpo sarado
para a satisfação do público feminino, já, Dakota Johnson, filha da atriz
Melanie Griffith, compensa sua beleza discreta com uma entrega inesperada nas
cenas de nudez –a cena mais interessante dela, entretanto, é quanto tem uma
rápida conversa com uma secretária: Numa referência graciosa, ela reproduz o
mesmo diálogo feito por sua própria mãe no melhor filme de sua carreira, “UmaSecretária de Futuro”.
Uma pena que a lembrança
daquele excelente filme só faz ressaltar a mediocridade deste.
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