Pense nas melhores atuações da carreira de Gene
Hackman. Pense no mais tenso filme policial. No mais brutal retrato do racismo.
Agora coloque tudo em um só filme. Foi isso que o diretor Alan Parker
basicamente fez neste antológico “Mississipi Em Chamas”.
Durante os anos 1960, nas rigidamente
segregadas comunidades sulistas do Mississipi, três jovens estudantes
idealistas (dois brancos e um negro) são assassinados. Para solucionar o caso
que esbarra diretamente no predominante racismo local são designados dois
agentes do FBI, um jovem e comprometido com as leis, as autoridades e a ética
(Willen Dafoe, num trabalho admirável), e outro veterano, acostumado aos
meandros nem sempre corretos, necessários para resolver um crime (Gene Hackman,
estupendo).
Os dois batem de frente com a corrupção vigente
no sistema local (e que, em função da natureza dos homicídios, revela-se um
obstáculo ainda maior para o cumprimento da lei), com a complexidade da
elucidação do que exatamente ocorreu e com a forte segregação sulista que não
raro desemboca em ocorrências violentas.
Concebido nos anos 1980 –época provavelmente do
auge criativo do diretor –e amparado numa alarmante história real (a partir da
qual a produção elaborou um trabalho com poderosas inclinações de um cinema à
moda antiga), este filme policial mostra-se brilhante nos mais diversos aspectos,
a começar pelo fenomenal contraponto entre a interpretação de Gene Hackman e a
caracterização bastante dedicada de um ainda jovem Willem Dafoe.
Em meio às imagens vigorosas captadas pela
fotografia magistral (ganhadora do Oscar), o diretor Parker registra então uma
série de embates: O novo contra o antiquado (e, em sua orientação de propósito,
ele parece beneficiar a eficácia dos veteranos), a segregação contra a
conciliação, a violência contra a racionalidade, enfim, a lei contra o crime.
Podem argumentar que existe
uma série de opções de ordem demagógica que norteiam sua realização (sobretudo,
no que diz respeito ao desfecho bem-sucedido das investigações oposto ao que
aconteceu na realidade), mas não há como questionar a excelência cinematográfica
que é atingida aqui.
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