“Lembre-se de Sammy Jenkins!”
A sub-trama envolvendo o personagem (fantasma?)
de Sammy Jenkins (Stephen Stobolowski) que acompanha a história deste filme é
uma das muitas sacadas geniais, as quais o expectador descobrirá, no fim (ou
seria no começo?), o quanto deveria ter prestado atenção, neste e em tantos
outros detalhes.
Certos filmes representam uma experiência
distinta para o expectador. “Amnésia”, de Christopher Nolan, com sua trama
organizada em ordem inversa (cada segmento de cerca de 15 minutos corresponde à
cena anterior daquela que virá em seguida) simula uma experiência assim: A de
uma memória dissolvida no esquecimento que, aos poucos, regride à mente, uma
recordação perdida que pouco a pouco vai voltando.
É uma maneira inteligente e incisiva que o
diretor Nolan encontrou para fazer com que o expectador se sentisse na mesma
condição do protagonista. Leonard Shelby (Guy Pierce, fabuloso), outrora um
pacato investigador de seguros, sofre de um caso inusitado de perda de memória
recente –esquece progressivamente tudo o que acontece desde que teve a mente
avariada num ataque criminoso. O mesmo ataque onde teve sua esposa morta.
Sofrendo dessa patologia, ele tem um objetivo:
Vingar-se dos bandidos que fizeram isso.
Mas, como mover uma investigação sendo que sua
própria mente é incapaz de reter novas informações?
A saída, para Leonard, é deixar freqüentes recados
para ele próprio em forma de tatuagens no próprio corpo, tirar ocasionais
polaróides das coisas e das pessoas (e nelas escrever suas impressões) e
encontrar subterfúgios para notificar a si mesmo.
Nessa jornada tortuosa, pontuada por elementos
intrínsecos ao gênero noir, que lhe é tão precioso, o diretor Nolan confronta
seu protagonista com personagens de invariável impressão dúbia, como a mulher
interpretada pela bela Carrie Anne-Moss e o ex-policial petulante vivido por
Joe Pantoliano (ambos no elenco do primeiro “Matrix” lançado dois anos antes).
Nolan –auxiliado pelo espetacular roteiro
escrito em conjunto com seu irmão Jonathan –parece lançar uma pergunta ao
público: Até que ponto é possível confiar nas outras pessoas, ou em si mesmo,
quando sua própria memória lhe trai?
Os conseqüentes
desdobramentos e respostas para essa pergunta são alguns dos elementos
francamente geniais deste filme ocasionalmente inovador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário