É menos um filme de guerra e mais uma aventura
sobre o mundo dos navegadores daquele período (1805) este elogiado filme no
qual o diretor australiano Peter Weir realiza um épico de forte inclinação
anacrônica, com narrativa, vocabulário e melodia de um filme feito na Velha
Hollywood –e que, por isso mesmo, pouco acessível parece ser à platéias mais
jovens.
Com efeito, ele conta a história de como, durante
as Guerras Napoleônicas, o Capitão Jack Aubbrey (Russell Crowe, em seu auge)
conduz sua eclética tripulação pelos sete mares, enfrentando problemas de
convívio e atribulações comuns a um grande navio, enquanto experimentam a
tensão de um possível e iminente combate com os espectrais navios da frota
francesa. A partir dessa premissa –que a maior parte dos diretores usaria como
ponto de partida para um filme cheio de cenas de ação –Weir enfatiza a minúcia,
a dinâmica e a condição humana: Interessa a sua narrativa as relações que
camaradagem ou não que se estabelece entre os indivíduos que dividem o convés,
às vezes ao longo dos anos, as histórias que relatam uns aos outros, a
impressão furtiva dos novatos, a hierarquia que vez ou outra sofre alguma
torção em função das circunstâncias, e as reações profundamente humanas.
Ele começa e termina com duas prodigiosas cenas
de batalha, contudo, excetuando-se isso, o filme de Weir não ação. A guerra,
quando muito, é mencionada como um fator estratégico pelos personagens, e mais
se fala dela do que se vê de fato. Ela surge na apreensão que toma os marujos,
nas constantes deliberações do capitão. Na atmosfera preocupante que de vez em
quando aflige a tripulação.
Após ter o navio H.M.S. Surprise avariado em um
conflito inesperado, o Capitão Aubrey, da Marinha Britânica, conduz sua
embarcação e seus homens pela costa da América do Sul numa tensa caçada ao
navio francês que o emboscou.
Seu melhor amigo e conselheiro, é o médico do
navio, Dr. Stephen Maturin (Paul Bettany, excelente) com quem compartilha as
incertezas de ver sua tripulação passar por revezes de fome e exaustão na busca
por superar seu adversário.
Tudo no filme de Weir depõe a favor de seu retrato
elaborado e meticuloso da vida marítima: A fotografia de Russell Boyd
(ganhadora do Oscar) se esmera em cenas que ilustram a recriação brilhante do
dia-a-dia no Surprise, ao mesmo tempo em que captura instantes de grande beleza
na paisagem natural; o elenco –que além de Crowe e Bettany, inclui James D’
Arcy, Billy Boyd (de “O Senhor dos Anéis”) e Richard McCabe –dedica-se a uma
interpretação coletiva de posturas formais e estudadas com imensa atenção na
reconstituição comportamental; e a direção de arte impõe um nível de
preciosismo e detalhamento que chega às raias do documental.
Esse esforço traz uma autenticidade vívida e perceptível
à encenação e à reconstituição, mas são muitos os que observam a maneira com
que a direção de Peter Weir se opõe à dar uma estrutura mais comercial ao seu
épico, valorizando mais a contemplação da natureza praticada por Maturin, as
interações entre ele e Aubrey, e a rotina marítima como um todo.
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