quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Sinais

Após os sucessos de “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado” –antes deles, ele havia feito a comédia dramática “Olhos Abertos” –estabeleceu-se uma fórmula por meio da qual M. Night Shyamalan criava suas obras: Um protagonista normalmente relacionado a filmes de ação (Bruce Willis no dois filmes anteriores, Mel Gibson neste aqui), porém, à frente de um elenco plenamente explorado em suas capacidades dramáticas; uma incursão no terror/suspense fantástico que, nada mais é senão uma forma narrativa de refletir os anseios do ser humano; uma notável economia de efeitos visuais e pirotecnia onde ele se vale exclusivamente das preciosas lições de ameaça sugerida deixadas, sobretudo, pelo mestre Spielberg em “Tubarão”, mas também pelo outro mestre Hitchcock, em inúmeros filmes; e uma atmosfera de freqüente sobressalto e susto construída com grande ajuda da trilha sonora.
Essas características definem este e todos os outros filmes de Shyamalan, inclusive “A Vila”, que ele faria em seguida.
Aqui, embora o quê ele pareça entregar seja um suspense crescente e aflitivo sobre invasões alienígenas (e até certo ponto, ele realmente seja mesmo), Shyamalan discute a fé em Deus ante as tragédias da vida, sobre o eixo fundamental da família.
O fazendeiro Graham Hess (Mel Gibson), outrora um padre que deixou de exercer seu sacerdócio após ter perdido a fé devido à trágica morte da esposa (numa cena esmiuçada gradativamente ao longo do filme), descobre perplexo ao lado de seu cunhado (Joaquim Phoenix) e dos dois filhos pequenos (Rory Culkin e Abigail Breslin, de “Pequena Miss Sunshine”) que em sua lavoura foram feitas misteriosas e gigantescas marcas, impossíveis de terem sido realizadas pela mão humana tal sua precisão e a rapidez com que surgiram da noite para o dia. São os famosos círculos que surgem em plantações ao longo do mundo e são atribuídos a seres extraterrestres.
Tentando elucidar o mistério que os perturba eles testemunham, nos dias que se seguem, outros indícios de que algo está a espreita: Aparições inexplicáveis, de criaturas fortuitas e desconhecidas se tornam cada vez mais freqüentes na plantação –e Shyamalan é hábil ao tornar cada uma desses aparições um momento arrepiante.
Pouco a pouco, enquanto a televisão vai noticiando outras e ainda mais estarrecedoras aparições em todo o mundo, eles vão se dando conta de que o planeta Terra como um todo parece estar sendo invadido.
É algo usual, portanto, o quê Shyamalan propõe: Testemunhar tal invasão do ponto de vista de humildes fazendeiros que só podem torcer pelos humanos nas grandes batalhas acompanhadas pelo noticiário da TV, e tentar rechaçar os invasores eventuais que vêem perturbar em seu próprio quintal.
Na estrutura algo convencional que Shyamalan atribui ao seu conto –pois os filmes de Shyamalan lembram, de fato, pequenos e saborosos contos de terror ou ficção científica –os desdobramentos ocorridos no desfecho tem direta relação com o acidente que tirou de Graham sua mulher. E a harmonia desses detalhes, a forma com que eles se complementam e parecem lá colocados para que eles possam sobreviver, é o elemento restaurador da fé que ele julgava ter abandonado para sempre.
“Sinais” não é tão perfeito quanto “O Sexto Sentido”, nem tão inspirado quanto “Corpo Fechado”, e perde na comparação até mesmo com o ótimo “A Vila”, que Shyamalan fez logo depois, mas é um dos sensacionais exemplares que ele entregou em sua melhor fase, que se acabou quando ele meteu os pés pelas mãos e lançou o estranho “A Dama Na Água”. 

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