Após os sucessos de “O Sexto Sentido” e “Corpo
Fechado” –antes deles, ele havia feito a comédia dramática “Olhos Abertos”
–estabeleceu-se uma fórmula por meio da qual M. Night Shyamalan criava suas
obras: Um protagonista normalmente relacionado a filmes de ação (Bruce Willis
no dois filmes anteriores, Mel Gibson neste aqui), porém, à frente de um elenco
plenamente explorado em suas capacidades dramáticas; uma incursão no
terror/suspense fantástico que, nada mais é senão uma forma narrativa de
refletir os anseios do ser humano; uma notável economia de efeitos visuais e
pirotecnia onde ele se vale exclusivamente das preciosas lições de ameaça
sugerida deixadas, sobretudo, pelo mestre Spielberg em “Tubarão”, mas também
pelo outro mestre Hitchcock, em inúmeros filmes; e uma atmosfera de freqüente
sobressalto e susto construída com grande ajuda da trilha sonora.
Essas características definem este e todos os
outros filmes de Shyamalan, inclusive “A Vila”, que ele faria em seguida.
Aqui, embora o quê ele pareça entregar seja um
suspense crescente e aflitivo sobre invasões alienígenas (e até certo ponto,
ele realmente seja mesmo), Shyamalan discute a fé em Deus ante as tragédias da
vida, sobre o eixo fundamental da família.
O fazendeiro Graham Hess (Mel Gibson), outrora
um padre que deixou de exercer seu sacerdócio após ter perdido a fé devido à
trágica morte da esposa (numa cena esmiuçada gradativamente ao longo do filme),
descobre perplexo ao lado de seu cunhado (Joaquim Phoenix) e dos dois filhos
pequenos (Rory Culkin e Abigail Breslin, de “Pequena Miss Sunshine”) que em sua
lavoura foram feitas misteriosas e gigantescas marcas, impossíveis de terem
sido realizadas pela mão humana tal sua precisão e a rapidez com que surgiram
da noite para o dia. São os famosos círculos que surgem em plantações ao longo
do mundo e são atribuídos a seres extraterrestres.
Tentando elucidar o mistério que os perturba
eles testemunham, nos dias que se seguem, outros indícios de que algo está a
espreita: Aparições inexplicáveis, de criaturas fortuitas e desconhecidas se
tornam cada vez mais freqüentes na plantação –e Shyamalan é hábil ao tornar
cada uma desses aparições um momento arrepiante.
Pouco a pouco, enquanto a televisão vai noticiando
outras e ainda mais estarrecedoras aparições em todo o mundo, eles vão se dando
conta de que o planeta Terra como um todo parece estar sendo invadido.
É algo usual, portanto, o quê Shyamalan propõe:
Testemunhar tal invasão do ponto de vista de humildes fazendeiros que só podem
torcer pelos humanos nas grandes batalhas acompanhadas pelo noticiário da TV, e
tentar rechaçar os invasores eventuais que vêem perturbar em seu próprio
quintal.
Na estrutura algo convencional que Shyamalan
atribui ao seu conto –pois os filmes de Shyamalan lembram, de fato, pequenos e
saborosos contos de terror ou ficção científica –os desdobramentos ocorridos no
desfecho tem direta relação com o acidente que tirou de Graham sua mulher. E a
harmonia desses detalhes, a forma com que eles se complementam e parecem lá
colocados para que eles possam sobreviver, é o elemento restaurador da fé que
ele julgava ter abandonado para sempre.
“Sinais” não é tão perfeito
quanto “O Sexto Sentido”, nem tão inspirado quanto “Corpo Fechado”, e perde na
comparação até mesmo com o ótimo “A Vila”, que Shyamalan fez logo depois, mas é
um dos sensacionais exemplares que ele entregou em sua melhor fase, que se
acabou quando ele meteu os pés pelas mãos e lançou o estranho “A Dama Na Água”.
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