À época da realização deste filme, Tim Burton
ainda não havia experimentado o auge mercadológico da indústria (como em
“Batman”), o ápice criativo de seu estilo (como em “Edward-Mãos de Tesoura” ou
“Ed Wood”), e nem adquirido qualquer experiência como cineasta que, para o bem
e para o mal, converteu seu estilo também numa espécie de fórmula (como em
“Sombras da Noite” ou “O Lar das Crianças Peculiares”).
Em “Os Fantasmas Se Divertem” temos, portanto,
um Tim Burton em estado puro no que tange à sua conexão com o moleque de 12
anos fascinados por monstros e filmes de terror que ele declaradamente sempre
usou como inspiração.
Neste filme podemos conferir Burton tateando a
narrativa em busca de uma voz, e por isso ele tenta de tudo (e exagera em
tudo): Quando precisa de comédia, ele elabora cenas rasgantes de tão hilárias
–a seqüência do jantar musical é, por isso mesmo, inesquecível! –quando precisa
do tom macabro e cartunesco que ele tanto adora, ele entrega momentos de um
absurdo inacreditável, muitos deles a cargo de um irrequieto e incontrolável
Michael Keaton no papel do vilão-título Beetlejuice (nem dá para acreditar ser
este o mesmo ator que apenas um ano depois o próprio Burton chamaria para viver
o sisudo e elegante herói de “Batman”).
Beetlejuice é, por assim dizer, uma espécie de
assombração de aluguel; ele dispõe seus serviços tenebrosos aos fantasmas
inexperientes que desejam enxotar os vivos de suas antigas residências.
É o caso de Barbara e Adam Maitland (Geena
Davis e Alec Baldwin), um jovem e adorável casal que, por ironia do destino,
veio a sofrer um acidente de carro em uma ponte (ao qual Burton dá todas as
características de um acidente de desenho animado) e, falecidos, se tornaram
fantasmas da casa que antes moravam.
Um ano depois, a casa recebe novos moradores,
os Deetz, e Beetlejuice surge assim como uma opção para que possam
aterrorizá-los e ficar com a casa novamente para eles.
Mas, o casal Deetz (interpretado por Catherine
O’ Hara, de “Esqueceram de Mim” e Jeffrey Jones, de “Curtindo A Vida Adoidado”
e “Amadeus”) tem uma filha, a desajustada, gótica, porém, encantadora Lydia
(Winona Ryder, num papel que, a despeito de ser feminino, remete ao próprio
Burton), que termina se afeiçoando aos dois fantasmas –talvez, justamente por
sua pouca adequação com os vivos.
Se existe a possibilidade dessa premissa soar
dramática e sombria, isso ocorre apenas na teoria: “Os Fantasmas Se Divertem”
mesmo que abraçando por completo todas as suas nuances macabras é uma comédia
assumida e deslavada, onde seu realizador nitidamente se sente plenamente a
vontade na retratação do fantasioso e original mundo dos mortos e algo
deslocado quando registra o mundo dos vivos –e por isso mesmo, recebe dele tão
pouca atenção.
Em meados dos anos 1980, tão
inovadora deve ter sido essa postura enquanto gênero e enquanto cinema que
muitos não souberam o que achar do filme –e como costuma ocorrer em casos
peculiares assim, ele logo virou um cult.
Nenhum comentário:
Postar um comentário