quarta-feira, 18 de abril de 2018

Laços de Ternura

Embora mais relacionado ao gênero de comédia, o diretor James L. Brooks obteve sua aclamação (precipitada alguns diriam) com um autêntico melodrama.
Em todos os ângulos através dos quais possa ser enxergado, “Laços de Ternura” é um registro emotivo da relação cheia de idas e vindas entre uma mãe e uma filha ao longo dos anos, contudo, a habilidade com comédia de Brooks se faz notar aqui na condução de momentos essencialmente sérios e dramáticos embevecidos, porém, de uma compreensão espirituosa das ironias do cotidiano –e isso, ele soube inclusive estender para as inspiradas atuações de Shirley MacLaine (vencedora do Oscar de Melhor Atriz) e de Debra Winger.
Elas vivem, respectivamente, Aurora e Emma, mãe e filha que não encontram uma sintonia harmoniosa em sua relação desde o início. Se na infância de Emma isso se manifestava na forma de imposições ocasionalmente absurdas de parte de Aurora, na fase adulta, isso se dá por meio do afastamento.
A narrativa acompanha a trajetória das duas em paralelo, mas habilmente entrelaçando-as por meio de manobras sutis e inteligentes: Aurora, lutando estoicamente contra a crise de meia idade, conhece um ex-astronauta (Jack Nicholson, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), também ele numa fase de angústia para com o próprio envelhecimento (seduz desesperadamente jovens moças com suas histórias da glória passada), e com ele acaba travando um relutante e caloroso romance. Emma, por sua vez, desvencilha-se da influência insistente da mãe, casa-se com um jovem namorado (Jeff Daniels) de quem tem dois filhos e constrói assim uma vida adulta, com todas as indisposições que uma vida adulta tem –o marido a trai durante a segunda gravidez e ela, entre o ressentimento e a passividade, arranja um amante também (interpretado pelo ótimo John Lithgow).
Essa atenção do diretor Brooks aos pequenos detalhes parece se justificar na terceira e última parte do filme, quando descobrimos que Emma sofre de câncer, e então, sem qualquer predisposição a atender as demandas emocionais e nada realistas do público, ele concede um arremate admirável a esse trabalho amargo e humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário