Embora mais relacionado ao gênero de comédia, o
diretor James L. Brooks obteve sua aclamação (precipitada alguns diriam) com um
autêntico melodrama.
Em todos os ângulos através dos quais possa ser
enxergado, “Laços de Ternura” é um registro emotivo da relação cheia de idas e
vindas entre uma mãe e uma filha ao longo dos anos, contudo, a habilidade com
comédia de Brooks se faz notar aqui na condução de momentos essencialmente
sérios e dramáticos embevecidos, porém, de uma compreensão espirituosa das
ironias do cotidiano –e isso, ele soube inclusive estender para as inspiradas
atuações de Shirley MacLaine (vencedora do Oscar de Melhor Atriz) e de Debra
Winger.
Elas vivem, respectivamente, Aurora e Emma, mãe
e filha que não encontram uma sintonia harmoniosa em sua relação desde o
início. Se na infância de Emma isso se manifestava na forma de imposições
ocasionalmente absurdas de parte de Aurora, na fase adulta, isso se dá por meio
do afastamento.
A narrativa acompanha a trajetória das duas em
paralelo, mas habilmente entrelaçando-as por meio de manobras sutis e
inteligentes: Aurora, lutando estoicamente contra a crise de meia idade,
conhece um ex-astronauta (Jack Nicholson, vencedor do Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante), também ele numa fase de angústia para com o próprio envelhecimento
(seduz desesperadamente jovens moças com suas histórias da glória passada), e
com ele acaba travando um relutante e caloroso romance. Emma, por sua vez,
desvencilha-se da influência insistente da mãe, casa-se com um jovem namorado
(Jeff Daniels) de quem tem dois filhos e constrói assim uma vida adulta, com
todas as indisposições que uma vida adulta tem –o marido a trai durante a
segunda gravidez e ela, entre o ressentimento e a passividade, arranja um
amante também (interpretado pelo ótimo John Lithgow).
Essa atenção do diretor
Brooks aos pequenos detalhes parece se justificar na terceira e última parte do
filme, quando descobrimos que Emma sofre de câncer, e então, sem qualquer predisposição
a atender as demandas emocionais e nada realistas do público, ele concede um
arremate admirável a esse trabalho amargo e humano.
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