Neste filme denso e extenso, Steven Spielberg
seguiu à risca as manobras formais que o consagraram quatro anos antes com
"A Lista de Schindler": Se anteriormente, ele havia entregue o
eminente sucesso “Jurassic Park” para daí se fechar na composição de um
exemplar mais sério de seu estilo, aqui ele assumiu as produções assim que
terminou “O Mundo Perdido” –justamente a continuação de “Jurassic Park”. Tão simultâneas
foram as filmagens dos dois trabalhos que ele trouxe de volta o diretor de
fotografia de “A Lista de Schindler”, Januz Kaminski (que passou a fotografar
todos os seus filmes desde então) e os atores Pete Postlethwaite e Arliss
Howard (oriundos do elenco de “Mundo Perdido”), novamente se prestando a narrar
uma obscura história real, de pertinente valor histórico e humano.
Liderados pelo destemido Cinque (Djimon
Housson, uma força da natureza), vários escravos terminam se amotinando em um
navio negreiro espanhol, o Amistad, em pleno oceano. Humildes trabalhadores
africanos capturados por escravagistas em sua terra natal, eles tentam coagir
seus captores a conduzir seu barco de volta à África. Mas, essa inusitada
tentativa de voltar para casa acaba os levando aos portos norte-americanos do
século XIX. Aprisionados pelas autoridades norte-americanas –que enxergavam a
escravidão com indiferença –eles tornam-se réus num julgamento que decidirá se
são de propriedade do reino da Espanha (sob alegação da precoce rainha Isabella,
vivida por Anna Paquin), da república dos EUA (representada por fileiras de
advogados tacanhos), dos escravagistas, ou se são, afinal, homens livres
(argumento este defendido por idealistas como o advogado Roger Sherman Baldwin,
interpretado por Matthew McConaughey).
O julgamento é conduzido a instâncias cada vez
mais elevadas da esfera judicial –num excesso de loquacidade e termos
legislativos com os quais nem sempre a narrativa de Spielberg parece obter
ritmo –até chegar num ponto em que os ex-escravos dependerão da representação
do ex-presidente John Quincy Adams (numa inspiradíssima atuação de Anthony
Hopkins) junto a Suprema Corte, se quiserem, de fato, voltar para seu lar.
Por mais que perdure a máxima de que o cinema
se sustenta, em grande medida, em cima de fórmulas, é patente, em trabalhos
como este, que as fórmulas são facilmente identificáveis pelo público; e,
portanto, facilmente repudiadas, também.
Spielberg até buscou repetir os mesmos passos
de sua formidável consagração em 1993, e nesse esforço empregou uma técnica a
qual se pode dar os mais bem escolhidos e elogiosos adjetivos, no entanto,
faltou a “Amistad”, o vigor narrativo que fazia de "Schindler" uma
obra memorável de cinema.
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