quinta-feira, 21 de junho de 2018

Amistad


Neste filme denso e extenso, Steven Spielberg seguiu à risca as manobras formais que o consagraram quatro anos antes com "A Lista de Schindler": Se anteriormente, ele havia entregue o eminente sucesso “Jurassic Park” para daí se fechar na composição de um exemplar mais sério de seu estilo, aqui ele assumiu as produções assim que terminou “O Mundo Perdido” –justamente a continuação de “Jurassic Park”. Tão simultâneas foram as filmagens dos dois trabalhos que ele trouxe de volta o diretor de fotografia de “A Lista de Schindler”, Januz Kaminski (que passou a fotografar todos os seus filmes desde então) e os atores Pete Postlethwaite e Arliss Howard (oriundos do elenco de “Mundo Perdido”), novamente se prestando a narrar uma obscura história real, de pertinente valor histórico e humano.
Liderados pelo destemido Cinque (Djimon Housson, uma força da natureza), vários escravos terminam se amotinando em um navio negreiro espanhol, o Amistad, em pleno oceano. Humildes trabalhadores africanos capturados por escravagistas em sua terra natal, eles tentam coagir seus captores a conduzir seu barco de volta à África. Mas, essa inusitada tentativa de voltar para casa acaba os levando aos portos norte-americanos do século XIX. Aprisionados pelas autoridades norte-americanas –que enxergavam a escravidão com indiferença –eles tornam-se réus num julgamento que decidirá se são de propriedade do reino da Espanha (sob alegação da precoce rainha Isabella, vivida por Anna Paquin), da república dos EUA (representada por fileiras de advogados tacanhos), dos escravagistas, ou se são, afinal, homens livres (argumento este defendido por idealistas como o advogado Roger Sherman Baldwin, interpretado por Matthew McConaughey).
O julgamento é conduzido a instâncias cada vez mais elevadas da esfera judicial –num excesso de loquacidade e termos legislativos com os quais nem sempre a narrativa de Spielberg parece obter ritmo –até chegar num ponto em que os ex-escravos dependerão da representação do ex-presidente John Quincy Adams (numa inspiradíssima atuação de Anthony Hopkins) junto a Suprema Corte, se quiserem, de fato, voltar para seu lar.
Por mais que perdure a máxima de que o cinema se sustenta, em grande medida, em cima de fórmulas, é patente, em trabalhos como este, que as fórmulas são facilmente identificáveis pelo público; e, portanto, facilmente repudiadas, também.
Spielberg até buscou repetir os mesmos passos de sua formidável consagração em 1993, e nesse esforço empregou uma técnica a qual se pode dar os mais bem escolhidos e elogiosos adjetivos, no entanto, faltou a “Amistad”, o vigor narrativo que fazia de "Schindler" uma obra memorável de cinema.

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