quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Fundo do Mar


Após o sucesso de “Tubarão” houve um natural interesse por novas adaptações do escritor Peter Benchley, bem como do consequente fascínio exercido pelos mistérios do mar, que aparentemente eram centrais à criatividade desse escritor.
Consequência disso, o diretor de “Bullitt” e da fantasia oitentista “Krull”, Peter Yates comandou esta produção que, diferente do tenso e intenso suspense de Steven Spielberg, era uma aventura aquática com elementos investigativos tendo como única similaridade com o filme anteriormente adaptado de Benchley o seu ambiente marinho.
Quando “O Fundo do Mar” começa acompanhamos já em meio às profundezas a pesquisa aquática do casal David e Gail Sanders (Nick Nolte e a linda Jacqueline Bisset, ela já tendo trabalhado com Yates em “Bullitt”). As cenas registradas no filme –e que respondem pelo grande diferencial da obra –deixam claro a dificuldade da produção em filmar embaixo d’água (sempre um contratempo tortuoso em qualquer projeto), e eles não pouparam recursos.
David e Gail encontram itens supostamente valiosos e alguns perigos também –de volta à superfície, descobrimos que eles não são pesquisadores de nobre intento científico; são, na realidade, caçadores de tesouros, sobretudo, David cuja ganância e avidez recebem ocasional indiferença de sua companheira.
Entretanto, é uma simples ampola de morfina, encontrada nos destroços de um navio afundado, que representa o fio condutor para inesperados problemas: Logo, aquela descoberta atrai a atenção de Cloche (Louis Gosset Jr.), traficante haitiano que compreende muito bem que a morfina pode ser convertida facilmente em heroína –e o vultuoso carregamento afundado nos recifes descoberto pelos Sanders pode representar para ele a descoberta de um grande lote gratuito.
O casal procura pela orientação e experiência de outro famoso caçador de tesouros submersos morador do lugar, o arredio e sábio Romer Treece (Robert Shaw, que também estava no elenco de “Tubarão”). Ele interessa-se o suficiente para acompanhá-los numa outra incursão ao navio naufragado e, uma vez lá, uma nova descoberta leva a um novo plano: O conteúdo misterioso –e sob muitos aspectos, inacessível –pode ter não somente uma generosa carga de morfina, mas também pode conter um tesouro lendário que os tornaria milionários.
Sem a excelência que faria dele um clássico, mas sem também a mediocridade que o tornaria esquecível, “O Fundo do Mar” é uma realização comercial que ilustra bem o nível relativamente razoável do entretenimento produzido na época –final dos anos 1970.
Suas cenas submarinas, ainda que com certeza datadas, preservam a sensação de perseverança e cuidado técnico com as quais foram feitas no período e a trama, não obstante suas guinadas sem muito espanto, prende a atenção satisfatoriamente.
Notável, para a época e para hoje, ainda é a formidável presença de Jacqueline Bisset, que aqui sagra-se facilmente como um sex-simbol absoluto do cinema, aparecendo numa sucessão de cenas sensuais inseridas de forma meio aleatória na trama; incluindo a clássica camiseta molhada na cena inicial –uma sequência que, a despeito da ênfase em outros aspectos da cena e da trama, ficou no subconsciente do público pela sugestão dos belíssimos seios desnudos da estrela!

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