segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Prova Final


Já no final da década de 1990, o roteirista Kevin Williamson quase conseguiu se tornar uma estrela com seu roteiro para “Pânico”, de Wes Craven, em 1996.
Soou como uma nova coqueluche no cinema comercial norte-americano aquela fusão de referências cinematográficas auto-conscientes e exaltação dos paradigmas (para não dizer, dos clichês!) do gênero terror.
Certamente, uma obra que pegou carona nessa repercussão foi “Prova Final”, que uniu Kevin Williamson ao diretor Robert Rodriguez, recém-saído de “Um Drink No Inferno”, sua primeira colaboração com Quentin Tarantino, o que em si já proporcionava uma curiosa junção de estilos e propostas distintas do emergente cinema jovem de então.
Iniciando ao som da banda “Offspring”, a trama introduz em duas cenas típicas de terror seus antagonistas: O treinador de futebol americano interpretado por Robert Patrick (o T-1000 de “Exterminador doFuturo 2”) que, se já era irascível antes, se torna intoleravelmente antagônico ao longo do filme; e os professores, entre os quais a diretora bonitona (Bebe Neuwirth), são tomados por entidades ainda desconhecidas.
Em seguida, o filme trata de introduzir seus heróis: Os alunos –que parecem saídos de um pastiche de John Hugues –tais como Casey (Elijah Wood, pouco antes de “O Senhor dos Anéis”), vítima constante dos valentões, o traficante metido a inteligente Zeke (Josh Hartnett), a patricinha arrogante Delilah (a brasileira Jordana Brewster, de “Velozes e Furiosos”), o capitão do time da escola Stan (Shawn Hatosy), a jovem deslocada Stokely (Clea DuVall) e a novata na escola Marybeth (a gatinha Laura Harris).
Todos eles, à sua própria maneira vão descobrir que os incidentes mostrados nas cenas iniciais deflagraram uma espécie de invasão alienígena no colégio, a começar pelo grupo dos professores (entre os quais, Famke Janssen, anos antes de ser a Jean Grey de “X-Men” e a enfermeira vivida pela então atriz-assinatura de Rodriguez, Salma Hayek) e estendida, mais tarde, para os alunos, depois os pais e, por consequência, o mundo.
Ninguém acredita em nenhum deles quando tentam alertar sobre essa situação –nesse sentido, um de seus momentos maravilhosos é, por conta de seu contexto, a cena em que é tocada a emblemática “Another Bick In The Wall”, do grupo Pink Floyd.
E apesar dessa alegoria do desajuste adolescente em contraponto à incompreensão adulta se encaixar com perfeição na premissa, o diretor Robert Rodriguez não está nem um pouco interessado nela; seu interesse está no clima, na tensão, no ritmo e na atmosfera persecutória que caracteriza esse tipo de filme.
O teor referencial que caracteriza os roteiros de Kevin Williamson até demora aparecer, mas quando o faz é com intensidade: Acontece, mais necessariamente na cena da biblioteca, um diálogo entre Elijah Wood e Clea DuVall onde é citada a referência primordial e incontornável do filme, “Vampiros de Almas” ou mesmo sua refilmagem “Invasores de Corpos” (com os quais, se você não notou, a história é bastante parecida!) e é levantada uma série de interessantes teorias de que o gênero das ficções científicas sobre invasões alienígenas (tão avidamente aproveitada no cinema) seria uma forma de distrair e banalizar o público para o real perigo.
Conforme a ação se afunila levando os acuados protagonistas a um beco sem saída, o roteiro e a direção se mostram hábeis em homenagear algumas obras cultuadas do nicho que resgatam em cenas notáveis que remetem à “A Noite dos Arrepios” (na cena em que confrontam seu professor de biologia, e vermes saídos de seu corpo ameaçam entrar pela boca dos desavisados!), “O Enigma do Outro Mundo” (em especial, no momento em que uma das professoras tem sua cabeça arrancada num acidente e ela cria pernas de aranha) e até mesmo “Força Sinistra” (quando a deliciosa Laura Harris caminha, nua e ameaçadora, pelo vestiário da escola).
Hoje, merecidamente dono de um lugar muito especial na memória afetiva de cinéfilos que se formaram durante os anos 1990, “Prova Final” preserva sua diversão na forma de sua tensão descontraída e de seu corre-corre agitado, fruto do apurado traquejo comercial que tanto Kevin Williamson, como Robert Rodriguez ostentavam então.

Nenhum comentário:

Postar um comentário