terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O Sol É Para Todos


Dirigido por Robert Mulligan (de “O Verão de 42”), este filme conquistou três prêmios Oscar em 1963, embora seja essencialmente lembrado pelo de Melhor Ator conferido a um altivo e magistral Gregory Peck no emblemático papel do advogado Atticus Finch.
Todavia, ao vermos o filme podemos constatar que são as crianças, a menina Scout e o garotinho Jem (Mary Badham e Philip Alford, a menina, inclusive, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante foi a mais jovem atriz indicada ao prêmio de sua época), os personagens principais do filme de fato: É pelo ponto de vista deles que tudo se desenrola, inclusive, sendo mostrado Atticus, seu pai, numa idealização de serenidade adulta e retidão moral de tal maneira impecável que só poderia mesmo corresponder à visão inocente de uma criança.
Adaptação do premiado livro de Harper Lee, o filme se passa no ano de 1932, no estado do Alabama. Se os EUA ainda experimentavam as severas consequências da Grande Depressão, no sul do país, essas atribulações ainda tinham o agravante da segregação racial que, nas décadas que precederam a luta pelos direitos civis, se mostrava mais forte do que nunca.
É lá onde Atticus, um advogado viúvo e pai de dois filhos, luta para manter a integridade e a honestidade mesmo diante das mais atrozes circunstâncias a fim de prover à Scout e a Jem um exemplo familiar sólido e perene.
As coisas começam a se complicar para a família quando Atticus é indicado pelo Juiz da cidade como advogado de defesa de Tom Robinson (Brock Peters), um homem negro julgado pela acusação de estupro de uma jovem branca.
Para a segregada comunidade e sua mentalidade racista, o julgamento é uma formalidade desnecessária e o veredicto, uma certeza: Todos creem que Robinson é culpado e, por ter assumido, por lei e por dever, a defesa dele, hostilizam Atticus e seus filhos.
As percepções distintas do que é o mal, a responsabilidade e a verdadeira firmeza de caráter são as bases em torno do qual este notável conto moral de desenvolve –e muitas de suas ramificações se encontram também na participação do personagem de Robert Duvall (em seu primeiro papel no cinema), breve, porém, significativo, para com a construção da compreensão verdadeira das crianças acerca do certo e do errado.
Um grande trabalho, inclusive pela esmerada e brilhante construção climática de muitas cenas, “O Sol É Para Todos” pode ter envelhecido em alguns aspectos, ainda que se possa afirmar que é, nesse anacronismo assumido que sua mensagem final encontra uma de suas maiores forças –contudo, ele entra mesmo na seleta lista das grandes obras do cinema por trazer não somente um personagem tão humanista quando espetacular como Atticus Finch, como também por proporcionar ao fenomenal ator que o interpreta, o grande Gregory Peck, a chance de entregar uma das mais preciosas e emocionantes atuações de sua carreira.

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