Embora a história de “Detona Ralph” fosse
absolutamente redonda com começo, meio e fim, não havia como escapar da regra
mais importante na cartilha hollywoodiana segunda a qual, se um filme fez
sucesso, haverá de ter continuação.
Sendo assim, cerca de seis anos depois, aqui
estamos, no lançamento de “WiFi Ralph” que traz de volta o grandalhão Detona
Ralph que, apesar de seu papel como vilão de jogo de fliperama, tem bom
coração. E quem ocupa o centro dele é a espevitada Vanellope von Schweetz,
vinda do jogo Corrida Doce, cuja existência ele salvou no filme anterior.
A fascinante concepção narrativa do
funcionamento interno dos jogos de videogame e a interação divertida entre seus
personagens participantes, apesar do frescor irresistível do primeiro filme,
não é empregada neste –e essa é uma das muitas escolhas sábias de seus
realizadores; eles não se acomodaram no brilho da premissa original e aqui não
perdem tempo em estendê-la de forma exponencial.
No mesmo dia em que terão de dividir o terminal
de tomadas elétricas com um roteador de internet, Ralph e Vanellope, em parte
devido a uma travessura dos dois, descobrem que o jogo da Corrida Doce está
ameaçado: Com seu controle manual danificado, o proprietário do fliperama acha
mais prático desligar o jogo de uma vez do que comprar um controle novo pelo
EBay –cujo valor é astronômico, já que o jogo se tornou antigo e seus
componentes raros são vendidos a preço de ouro.
Dessa forma, Ralph e Vanellope não enxergam
outra alternativa senão a de entrar na internet a procura da peça que fará a
Corrida Doce ser funcional de novo.
E o mundo da internet, na visão material e
lúdica do filme, é, como era de se esperar, um espetáculo: Representações
visuais de aplicativos digitais, sites e outros elementos surgem com a mesma
inventividade do filme anterior, proporcionando um trabalho de encher os olhos.
Como quando Ralph visita o site Buzztube e
inicia uma série de vídeos virais para obter as curtidas que pagarão pela peça
de que precisam.
No entanto, nesse sentido, o grande momento de
“WiFi Ralph” é certamente aquele em que Vanellope vai parar no “Oh My Disney”,
o site oficial de Walt Disney Pictures e lá encontra-se, entre outros, com as
princesas clássicas da Disney, sejam aquelas oriundas das animações
clássicas(como “Branca de Neve”, “Cinderella”, Aurora, de “A Bela Adormecida”,
Ariel, de “A Pequena Sereia”, Bela, de “A Bela e A Fera”, Jasmine, de
“Alladin”, Pocahontas, Mulan e Tiana, de “A Princesa e O Sapo”), ou as da era
digital (Rapunzel, de “Enrolados”, Merida, de “Valente”, Elsa e Anna, de
“Frozen”, e Moana).
É a Disney aproveitando seu amplo legado (que
vai de “Star Wars” aos filmes da Marvel Studios, passando por outras famosas
animações) numa sucessão de detalhes cênicos tão ricos que só serão
inteiramente percebidos numa segunda ou numa terceira revisão –recentemente, só
“Jogador N° 1”, de Steven Spielberg, obteve feito semelhante.
É admirável, portanto, que diante de tamanho
respaldo criativo, a narrativa jamais esqueça seus personagens. É a trajetória
de Ralph e Vanellope, num nível até mais íntimo do que se possa supor, que realmente
ocupa o cerne do filme: Quando Vanellope descobre no jogo on-line da Corrida do
Caos, ao lado de sua líder charmosa e carismática Shank (com a voz de Gal
Gadot), a sua verdadeira aptidão –que vai muito além das habilidades que a
Corrida Doce exige dela –em meio à uma música típica da Disney (e como tal,
composta por Alan Menken!) –e assim se arrisca a entrar em colisão com Ralph e
sua amizade com a garotinha que beira as raias da dependência. E nisso, “WiFi
Ralph” dá uma prova da pouquíssima acomodação de seus realizadores ao avançar
um degrau em seu argumento provando que, como na vida (e ao contrário da grande
maioria das animações), nada permanece sempre o mesmo –por mais que seja esse o
nosso desejo.
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