terça-feira, 8 de janeiro de 2019

WiFi Ralph - Quebrando A Internet


Embora a história de “Detona Ralph” fosse absolutamente redonda com começo, meio e fim, não havia como escapar da regra mais importante na cartilha hollywoodiana segunda a qual, se um filme fez sucesso, haverá de ter continuação.
Sendo assim, cerca de seis anos depois, aqui estamos, no lançamento de “WiFi Ralph” que traz de volta o grandalhão Detona Ralph que, apesar de seu papel como vilão de jogo de fliperama, tem bom coração. E quem ocupa o centro dele é a espevitada Vanellope von Schweetz, vinda do jogo Corrida Doce, cuja existência ele salvou no filme anterior.
A fascinante concepção narrativa do funcionamento interno dos jogos de videogame e a interação divertida entre seus personagens participantes, apesar do frescor irresistível do primeiro filme, não é empregada neste –e essa é uma das muitas escolhas sábias de seus realizadores; eles não se acomodaram no brilho da premissa original e aqui não perdem tempo em estendê-la de forma exponencial.
No mesmo dia em que terão de dividir o terminal de tomadas elétricas com um roteador de internet, Ralph e Vanellope, em parte devido a uma travessura dos dois, descobrem que o jogo da Corrida Doce está ameaçado: Com seu controle manual danificado, o proprietário do fliperama acha mais prático desligar o jogo de uma vez do que comprar um controle novo pelo EBay –cujo valor é astronômico, já que o jogo se tornou antigo e seus componentes raros são vendidos a preço de ouro.
Dessa forma, Ralph e Vanellope não enxergam outra alternativa senão a de entrar na internet a procura da peça que fará a Corrida Doce ser funcional de novo.
E o mundo da internet, na visão material e lúdica do filme, é, como era de se esperar, um espetáculo: Representações visuais de aplicativos digitais, sites e outros elementos surgem com a mesma inventividade do filme anterior, proporcionando um trabalho de encher os olhos.
Como quando Ralph visita o site Buzztube e inicia uma série de vídeos virais para obter as curtidas que pagarão pela peça de que precisam.
No entanto, nesse sentido, o grande momento de “WiFi Ralph” é certamente aquele em que Vanellope vai parar no “Oh My Disney”, o site oficial de Walt Disney Pictures e lá encontra-se, entre outros, com as princesas clássicas da Disney, sejam aquelas oriundas das animações clássicas(como “Branca de Neve”, “Cinderella”, Aurora, de “A Bela Adormecida”, Ariel, de “A Pequena Sereia”, Bela, de “A Bela e A Fera”, Jasmine, de “Alladin”, Pocahontas, Mulan e Tiana, de “A Princesa e O Sapo”), ou as da era digital (Rapunzel, de “Enrolados”, Merida, de “Valente”, Elsa e Anna, de “Frozen”, e Moana).
É a Disney aproveitando seu amplo legado (que vai de “Star Wars” aos filmes da Marvel Studios, passando por outras famosas animações) numa sucessão de detalhes cênicos tão ricos que só serão inteiramente percebidos numa segunda ou numa terceira revisão –recentemente, só “Jogador N° 1”, de Steven Spielberg, obteve feito semelhante.
É admirável, portanto, que diante de tamanho respaldo criativo, a narrativa jamais esqueça seus personagens. É a trajetória de Ralph e Vanellope, num nível até mais íntimo do que se possa supor, que realmente ocupa o cerne do filme: Quando Vanellope descobre no jogo on-line da Corrida do Caos, ao lado de sua líder charmosa e carismática Shank (com a voz de Gal Gadot), a sua verdadeira aptidão –que vai muito além das habilidades que a Corrida Doce exige dela –em meio à uma música típica da Disney (e como tal, composta por Alan Menken!) –e assim se arrisca a entrar em colisão com Ralph e sua amizade com a garotinha que beira as raias da dependência. E nisso, “WiFi Ralph” dá uma prova da pouquíssima acomodação de seus realizadores ao avançar um degrau em seu argumento provando que, como na vida (e ao contrário da grande maioria das animações), nada permanece sempre o mesmo –por mais que seja esse o nosso desejo.

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