quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Relação Indecente


Com a chegada da década de 1990, chegou também a maturidade da precoce atriz Drew Barrymore: Após encantar o mundo em 1982 com sua atuação em “E.T. O Extraterrestre”, ela enfrentou diversos problemas que prejudicaram sua carreira nos anos seguintes e, aos vinte e um anos, estrelou este “Relação Indecente” que, entre outras coisas, proporcionou o encontro em cena de Drew e da atriz Cheryl Ladd, dos seriado “As Panteras” –a própria Drew, décadas depois, acabou protagonizando e produzindo a versão cinematográfica da série!
Mas, voltando à “Relação Indecente”... aqui, no auge de sua formosura de ninfeta, Drew tentou se lançar como uma nova femme fatale cinematográfica.
Atributos, ela bem que tinha: De uma beleza fulgurante e insinuante, Drew acaba sendo por vezes a grande razão de ser (e de assistir) a este filme que emprega certa vibração noir para narrar uma trama meio desencontrada sobre uma irreversível dissolução familiar.
A narradora da história é Sylvie (Sara Gilbert) que, na cena inicial, já encontramos às voltas com seus sentimentos contraditórios em relação à personagem de Drew Barrymore que, ao som de sua narrativa em off, se balança numa corda em slow-motion.
É uma abertura já ela cheia de incongruências que refletem o filme como um tudo, mas em especial, seu roteiro.
Filha de um notório apresentador de TV, a anti-social Sylvie se torna amiga instantânea da garota a quem passa a chamar de Ivy –e já soa absolutamente inverossímil quando, ao longo de toda a história, ela sequer se esforça para descobrir qual é o verdadeiro nome daquela misteriosa jovem que ela acolhe no seio de sua família.
Ivy é sedutora. Se, de início, Daryl, o pai de Sylvie (vivido por Tom Skerrit com uma impagável expressão de velho assanhado), se mostra relutante e Georgie (Cheryl Ladd), a mãe adoentada, se revela arredia, aos poucos, Ivy –que passa a morar com eles! –vai ganhando a confiança de todos: Ela se torna confidente de Georgie e um –digamos assim –ombro amigo de Daryl.
Entretanto (sem que haja um propósito mais específico para tal), a menina está apenas afiando as garras: Ivy vai gradativamente, e sem que ninguém perceba, ou enxergue perigo nisso, interferindo no dia-a-dia da casa. Alterando agendas. Conquistando afeições. Fazendo-se necessária até obter um patamar no qual pode provocar danos reais à estrutura familiar.
Ela encontra uma forma de matar Georgie –ou, mais precisamente, simular seu suicídio –e, no melhor estilo “Lolita”, seduzir Daryl, ocupando pouco a pouco o lugar de matriarca da casa; e a semelhança entre Drew Barrymore e Cheryl Ladd é constantemente aproveitada em muitas passagens alucinatórias.
Embora hajam características instigantes que comparecem vez ou outra, “Relação Indecente” cede facilmente ao banal. Em parte, por sua indecisão: A despeito do sex-appeal de Drew Barrymore, as insinuações dela nunca resultam em cenas sensuais e satisfatórias de fato, e isso, em plenos anos 1990, tendo como referência para o gênero o ardente “Instinto Selvagem” –filme que esta produção evoca abertamente –resulta frustrante.
Com efeito, “Relação Indecente” acaba parecendo mesmo, na narrativa e no visual, um daqueles suspenses soft-porn que infestavam as videolocadoras –sem, no entanto, a vantagem da nudez gratuita. Sim, por mais que Drew Barrymore esteja provocante e tentadora como nunca, ela em momento algum fica nua.
Essa satisfação, ela só veio proporcionar aos seus fãs e admiradores, alguns anos depois deste filme, ao posar para as páginas da revista Playboy.

Nenhum comentário:

Postar um comentário