Com a chegada da década de 1990, chegou também
a maturidade da precoce atriz Drew Barrymore: Após encantar o mundo em 1982 com
sua atuação em “E.T. O Extraterrestre”, ela enfrentou diversos problemas que
prejudicaram sua carreira nos anos seguintes e, aos vinte e um anos, estrelou
este “Relação Indecente” que, entre outras coisas, proporcionou o encontro em
cena de Drew e da atriz Cheryl Ladd, dos seriado “As Panteras” –a própria Drew,
décadas depois, acabou protagonizando e produzindo a versão cinematográfica da
série!
Mas, voltando à “Relação Indecente”... aqui, no
auge de sua formosura de ninfeta, Drew tentou se lançar como uma nova femme
fatale cinematográfica.
Atributos, ela bem que tinha: De uma beleza
fulgurante e insinuante, Drew acaba sendo por vezes a grande razão de ser (e de
assistir) a este filme que emprega certa vibração noir para narrar uma trama
meio desencontrada sobre uma irreversível dissolução familiar.
A narradora da história é Sylvie (Sara Gilbert)
que, na cena inicial, já encontramos às voltas com seus sentimentos
contraditórios em relação à personagem de Drew Barrymore que, ao som de sua
narrativa em off, se balança numa corda em slow-motion.
É uma abertura já ela cheia de incongruências
que refletem o filme como um tudo, mas em especial, seu roteiro.
Filha de um notório apresentador de TV, a
anti-social Sylvie se torna amiga instantânea da garota a quem passa a chamar
de Ivy –e já soa absolutamente inverossímil quando, ao longo de toda a
história, ela sequer se esforça para descobrir qual é o verdadeiro nome daquela
misteriosa jovem que ela acolhe no seio de sua família.
Ivy é sedutora. Se, de início, Daryl, o pai de
Sylvie (vivido por Tom Skerrit com uma impagável expressão de velho assanhado),
se mostra relutante e Georgie (Cheryl Ladd), a mãe adoentada, se revela
arredia, aos poucos, Ivy –que passa a morar com eles! –vai ganhando a confiança
de todos: Ela se torna confidente de Georgie e um –digamos assim –ombro amigo
de Daryl.
Entretanto (sem que haja um propósito mais
específico para tal), a menina está apenas afiando as garras: Ivy vai
gradativamente, e sem que ninguém perceba, ou enxergue perigo nisso,
interferindo no dia-a-dia da casa. Alterando agendas. Conquistando afeições.
Fazendo-se necessária até obter um patamar no qual pode provocar danos reais à estrutura
familiar.
Ela encontra uma forma de matar Georgie –ou,
mais precisamente, simular seu suicídio –e, no melhor estilo “Lolita”, seduzir
Daryl, ocupando pouco a pouco o lugar de matriarca da casa; e a semelhança
entre Drew Barrymore e Cheryl Ladd é constantemente aproveitada em muitas
passagens alucinatórias.
Embora hajam características instigantes que
comparecem vez ou outra, “Relação Indecente” cede facilmente ao banal. Em parte,
por sua indecisão: A despeito do sex-appeal de Drew Barrymore, as insinuações
dela nunca resultam em cenas sensuais e satisfatórias de fato, e isso, em
plenos anos 1990, tendo como referência para o gênero o ardente “Instinto Selvagem” –filme que esta produção evoca abertamente –resulta frustrante.
Com efeito, “Relação Indecente” acaba parecendo
mesmo, na narrativa e no visual, um daqueles suspenses soft-porn que infestavam
as videolocadoras –sem, no entanto, a vantagem da nudez gratuita. Sim, por mais
que Drew Barrymore esteja provocante e tentadora como nunca, ela em momento algum
fica nua.
Essa satisfação, ela só veio proporcionar aos
seus fãs e admiradores, alguns anos depois deste filme, ao posar para as
páginas da revista Playboy.
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