quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Venom

Projeto acalentado já há alguns anos pela Sony Pictures, “Venom” entrou na pauta da produtora a partir do momento em que público e crítica deixaram bem claro que eles não estavam sabendo o que fazer na condução da franquia de sua estrela principal, o Homem-Aranha –Venom é um dos integrantes de sua ampla galeria de vilões, chegando a aparecer em “Homem-Aranha 3”, interpretado por Topher Grace, e é um dos mais apreciados personagens surgido os quadrinhos dos anos 1990.
Com o acordo entre a Sony e a Marvel Studios permitindo a migração do herói para os filmes dos Vingadores e seu Universo Compartilhado –além de filmes solo, dentro desse Universo, cujo primeiro exemplar é “Homem-Aranha-De Volta Ao Lar” –o caminho ficou livre para que outros personagens relativos à mitologia do Homem-Aranha ganhassem o cinema em seus próprios longa-metragens; e “Venom” é só o primeiro dessa safra.
Dirigido por Ruben Fleischer, de “Zumbilândia” e “Gangstersquad”, o filme desenvolve uma história independente com referências aos quadrinhos quando muito sucintas: Afinal, o personagem e sua origem está diretamente ligado ao Homem-Aranha e, por ora, o filme fugiu completamente de maiores conexões.
Pode-se dizer que existem dois protagonistas no filme. O primeiro deles começa a ser pouco a pouco introduzido já na cena inicial; uma nave rumo à Terra que surge entre as estrelas num take que lembra bastante a cena inicial de “O Predador”. Ao cair na Terra, descobrimos que a nave traz organismos extraterrestres que a inescrupulosa Fundação Vida, empresa do vilão Carlton Drake (Riz Ahmed, de “Jason Bourne”), trata de acobertar e iniciar procedimentos para experiências ilícitas.
Os organismos, espécies de criaturas em forma de plasma chamadas ‘simbiontes’, logo é descoberto, precisam de hospedeiros para se manter. Se de início, as experiências envolviam animais para o processo de simbiose, com o tempo, Carlton autoriza o uso de cobaias humanas que vão morrendo sucessivamente.
É aí que surge o outro grande protagonista da história, seu personagem principal de fato, o repórter Eddie Brock (Tom Hardy) que persegue avidamente pelos indícios de crimes perpetrados por Carlton e sua fundação.
Como é de se esperar num embate entre um homem comum (Eddie) e outro de largos recursos (Carlton), em seis meses, Eddie tem sua vida destruída: Ele perde seu emprego, seu apartamento e até mesmo sua namorada Annie (a maravilhosa Michelle Williams).
Entretanto, sua história com a Fundação Vida não terminou, pois, uma cientista perplexa vem bater à sua porta a fim de denunciar as mortes que se seguem na empresa. Ao invadi-la, Brock encontra várias pessoas já moribundas com simbiontes e acaba sendo infectado por um deles –o que promove assim o encontro dos dois protagonistas do filme, o relutante Eddie Brock e o simbionte que lhe dará habilidades inimagináveis.
Nos dias que se seguem, enquanto é violentamente perseguido pelos homens de Carlton (desejoso de ter o alienígena de volta), Eddie descobre que o simbionte pode comunicar-se com ele (e se autodenomina Venom) e juntos, possuem poderes espantosos capazes de assumir a forma de uma criatura de massa negra e volátil extremamente forte –e, no contexto em que se descobrem tão eficientes trabalhando juntos, Eddie e o simbionte são até mesmo capazes de acabar sendo os heróis da história toda.
Até pela circunstância em que chegou ao cinema, o filme tem amplo potencial para decepcionar muitos fãs que esperam um Venom absolutamente fiel à sua fonte dos quadrinhos: A fim de omitir a presença do Homem-Aranha (essencial à sua origem, é sempre bom lembrar) muito da trama original foi modificada e das motivações do próprio personagem, como também a forma final de Venom trouxe mudanças –a grande aranha desenhada em seu peito, réplica do famoso uniforme negro do Homem-Aranha nos anos 1980, deixou de existir.
O diretor Fleischer compensa esses detalhes, contudo, com o máximo de voltagem pop que sua narrativa consegue evocar; as cenas de luta e de perseguição, que usam e abusam da boa forma do astro Tom Hardy, são em sua maioria competentes e vibrantes.
E “Venom” cumpriu sua tarefa direitinho: Se não é nenhum filmaço de qualidade inquestionável (seu trabalho, enquanto filme de ação nunca ultrapassa o trivial, e seu roteiro não hesita em empregar soluções fáceis e previsíveis), seu oportuno lançamento em cinema, ocorrido num período sem maiores concorrentes de outros estúdios, propiciou uma gorda bilheteria, muito além das expectativas modestas que a Sony Pictures alimentava para este projeto.

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