Projeto acalentado já há alguns anos pela Sony
Pictures, “Venom” entrou na pauta da produtora a partir do momento em que
público e crítica deixaram bem claro que eles não estavam sabendo o que fazer
na condução da franquia de sua estrela principal, o Homem-Aranha –Venom é um
dos integrantes de sua ampla galeria de vilões, chegando a aparecer em
“Homem-Aranha 3”, interpretado por Topher Grace, e é um dos mais apreciados
personagens surgido os quadrinhos dos anos 1990.
Com o acordo entre a Sony e a Marvel Studios
permitindo a migração do herói para os filmes dos Vingadores e seu Universo
Compartilhado –além de filmes solo, dentro desse Universo, cujo primeiro
exemplar é “Homem-Aranha-De Volta Ao Lar” –o caminho ficou livre para que
outros personagens relativos à mitologia do Homem-Aranha ganhassem o cinema em
seus próprios longa-metragens; e “Venom” é só o primeiro dessa safra.
Dirigido por Ruben Fleischer, de “Zumbilândia”
e “Gangstersquad”, o filme desenvolve uma história independente com referências
aos quadrinhos quando muito sucintas: Afinal, o personagem e sua origem está
diretamente ligado ao Homem-Aranha e, por ora, o filme fugiu completamente de
maiores conexões.
Pode-se dizer que existem dois protagonistas no
filme. O primeiro deles começa a ser pouco a pouco introduzido já na cena
inicial; uma nave rumo à Terra que surge entre as estrelas num take que lembra
bastante a cena inicial de “O Predador”. Ao cair na Terra, descobrimos que a
nave traz organismos extraterrestres que a inescrupulosa Fundação Vida, empresa
do vilão Carlton Drake (Riz Ahmed, de “Jason Bourne”), trata de acobertar e
iniciar procedimentos para experiências ilícitas.
Os organismos, espécies de criaturas em forma
de plasma chamadas ‘simbiontes’, logo é descoberto, precisam de hospedeiros
para se manter. Se de início, as experiências envolviam animais para o processo
de simbiose, com o tempo, Carlton autoriza o uso de cobaias humanas que vão
morrendo sucessivamente.
É aí que surge o outro grande protagonista da
história, seu personagem principal de fato, o repórter Eddie Brock (Tom Hardy)
que persegue avidamente pelos indícios de crimes perpetrados por Carlton e sua
fundação.
Como é de se esperar num embate entre um homem
comum (Eddie) e outro de largos recursos (Carlton), em seis meses, Eddie tem
sua vida destruída: Ele perde seu emprego, seu apartamento e até mesmo sua
namorada Annie (a maravilhosa Michelle Williams).
Entretanto, sua história com a Fundação Vida
não terminou, pois, uma cientista perplexa vem bater à sua porta a fim de
denunciar as mortes que se seguem na empresa. Ao invadi-la, Brock encontra
várias pessoas já moribundas com simbiontes e acaba sendo infectado por um
deles –o que promove assim o encontro dos dois protagonistas do filme, o
relutante Eddie Brock e o simbionte que lhe dará habilidades inimagináveis.
Nos dias que se seguem, enquanto é violentamente
perseguido pelos homens de Carlton (desejoso de ter o alienígena de volta),
Eddie descobre que o simbionte pode comunicar-se com ele (e se autodenomina
Venom) e juntos, possuem poderes espantosos capazes de assumir a forma de uma
criatura de massa negra e volátil extremamente forte –e, no contexto em que se
descobrem tão eficientes trabalhando juntos, Eddie e o simbionte são até mesmo
capazes de acabar sendo os heróis da história toda.
Até pela circunstância em que chegou ao cinema,
o filme tem amplo potencial para decepcionar muitos fãs que esperam um Venom
absolutamente fiel à sua fonte dos quadrinhos: A fim de omitir a presença do
Homem-Aranha (essencial à sua origem, é sempre bom lembrar) muito da trama
original foi modificada e das motivações do próprio personagem, como também a
forma final de Venom trouxe mudanças –a grande aranha desenhada em seu peito,
réplica do famoso uniforme negro do Homem-Aranha nos anos 1980, deixou de
existir.
O diretor Fleischer compensa esses detalhes,
contudo, com o máximo de voltagem pop que sua narrativa consegue evocar; as
cenas de luta e de perseguição, que usam e abusam da boa forma do astro Tom
Hardy, são em sua maioria competentes e vibrantes.
E “Venom” cumpriu sua
tarefa direitinho: Se não é nenhum filmaço de qualidade inquestionável (seu
trabalho, enquanto filme de ação nunca ultrapassa o trivial, e seu roteiro não
hesita em empregar soluções fáceis e previsíveis), seu oportuno lançamento em
cinema, ocorrido num período sem maiores concorrentes de outros estúdios,
propiciou uma gorda bilheteria, muito além das expectativas modestas que a Sony
Pictures alimentava para este projeto.
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