Em alguma cidadezinha do desolado meio-oeste
dos EUA, dois garotinhos (os expressivos James Freedson-Jackson e Hays Wellford)
encontram um carro de polícia aparentemente abandonado no meio do mato.
Fazem assim o que qualquer criança faria: Jogam
pedras numa travessa provocação, depois aproximam-se lentamente, testando a
coragem um do outro. Logo, concluem que não existem policiais por perto. E
então, entram no veículo e saem a dirigi-lo.
O filme independente que revelou o diretor Jon
Watts –levando-o a ser recrutado pela Marvel Studios para dirigir “Homem-Aranha De Volta Ao Lar” –parte de uma premissa das mais simples para mostrar seu ótimo
domínio de ritmo e de atmosfera.
Guardadas as devidas proporções, sua narrativa
evoca o primor básico de “Onde Os Fracos Não Têm Vez”, dos Coen –sua estrutura
se constrói a partir de situações que evoluem integrando o fio narrativo do
filme. Sendo assim, das cenas envolvendo os dois garotos e o carro de polícia,
saltamos para o xerife vivido primorosamente por Kevin Bacon (também produtor
executivo) que descobrimos ser o protagonista do outro lado da situação: O
policial dono do carro inadvertidamente levado.
Entretanto, o policial deixou o carro por
motivos nem um pouco lícitos –foi dar sumiço à um corpo que jazia em seu
porta-malas (!), para piorar as coisas, além de um veículo de trabalho levado
sem maiores justificativas debaixo de seu nariz, havia mais um corpo a ser
desovado no porta-malas (!), e o dito cujo em questão (interpretado por Shea
Whigham, de “O Abrigo”) não está morto (!!).
Habilmente as cenas se intercalam entre os
personagens (a caçada do perplexo policial; o divertimento dos dois garotos que
evolui para uma aterradora conclusão da encrenca em que se meteram), revelando
informações de modo econômico e quase sempre inspirado, ostentando uma junção
peculiar e brilhante de drama e humor negro, e levando seus personagens num
crescendo violento de tensão e sordidez –não é à toa que uma das cenas mais
elogiadas e bem realizadas de “Homem-Aranha De Volta Ao Lar” seja a tensa cena
entre herói e vilão dentro de um carro; aqui, em “A Viatura” podemos perceber
que situações tensas são a especialidade de Jon Watts.
Surpreende, sobretudo, a
posição do filme em relação ao gênero que deseja adotar (um suspense policial
com o mais ácido sarcasmo) mesmo tendo duas crianças como protagonistas.
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