terça-feira, 19 de março de 2019

De Repente Pai

Há que se prestigiar o esforço do ator Vince Vaughn para demonstrar versatilidade em sua filmografia: Entre tentativas muitas vezes válidas como intérprete sério (o competente “Confronto No Pavilhão 99” e a irregular 2ª temporada da série “True Detective”), ele normalmente cede ao gênero pelo qual ficou mais conhecido do grande público, a comédia.
“De Repente, Pai” é a inevitável refilmagem norte-americana do sucesso canadense “Meus 533 Filhos” que amparava-se na habilidade extraordinária e no timing cômico peculiar de Patrick Huard.
Na falta de uma presença tão catalisadora, a refilmagem investe um pouco menos no humor para encontrar assim os desdobramentos agridoces em sua premissa resultando assim numa comédia dramática.
David (Vince Vaughn) é um adulto incapaz de pôr ordem em sua vida. Em meio ao emprego que mal consegue manter como entregador de carne no açougue do próprio pai, o assédio constante de agiotas para quem deve dinheiro e ao namoro algo relutante que mantem com a policial Emma (a linda Cobie Smulders, de “Vingadores” e da série “How I Meet Your Mother”), ele descobre que, com a gravidez dela, será pai.
Entretanto, a revelação realmente bombástica vem logo depois: Em meados dos anos 1990, David foi fornecedor de uma clínica da inseminação artificial a fim de juntar um bom dinheiro para pagar uma viagem à família, e durante um tempo considerável, ele foi o único doador ativo –o que torna ele pai de centenas de jovens que atualmente entraram em conjunto na Justiça para saber sua identidade por trás da alcunha anônima de ‘Starbuck’ (!).
Lembrado a todo momento por seu advogado e amigo Brett (o divertido Chris Pratt, mais rechonchudo, antes de “Guardiões da Galáxia”) das complicações inerentes ao caso, David não resiste à vontade de conhecer pouco a pouco (e um a um) alguns desses ‘filhos’. E assim, de visita em visita, vai inadvertidamente intervindo em pequenos momentos da vida de todos eles –salva a vida da ex-viciada Kristen (Britt Robertson); auxilia o aspirante a ator Josh (Jack Raynor) a comparecer numa audição; enaltece as apresentações do músico de rua Adam (Dave Patten), proporciona companhia ao deficiente Ryan (Sébastien René); e até busca satisfazer a carência do intelectual Viggo (Adam Chanler-Berat) –tornando-se quase uma espécie de anjo da guarda. Até mesmo a caracterização de Vince Vaughn, trajando uma mesma combinação de roupas durante todo o filme, sugere nele uma espécie de ‘vestimenta de super-herói’.
Nem todas as manobras do filme funcionam –e ainda que seja dirigido pelo mesmo Ken Scott que realizou o original canadense, ele certamente perde de longe para sua flagrante espontaneidade –mas, é o tipo de produção que ganha o expectador pela simpatia da premissa básica e seus incomuns desenlaces familiares e pela despretensão natural que pulsa de um projeto assim.

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