segunda-feira, 15 de abril de 2019

A Crise

Na ânsia de definir o relevo sarcástico, irônico e pleno de humor negro experimentado por seu personagem principal, a diretora Coline Serreau (da versão francesa de “Três Solteirões e Um Bebê”) exagera um pouco nos diálogos expositivos, dando ao filme, já em seu começo, um aspecto engessado e excessivamente dialogado de teatro.
Esse personagem principal trata-se de Victor (Vincent Lindon, de “Betty Blue”), um advogado outrora bem-sucedido, cuja vida de conforto se converte num pesadelo: De uma hora para outra, sua esposa o abandona –deixando para trás ingratidão e dois filhos! –e seu ganha-pão se vai –a firma em que trabalhava apenas o demite sem maiores esclarecimentos.
A partir do viés reflexivo que sua própria crise lhe acarreta, Victor se conscientiza também das aflições dos outros a sua volta.
Ainda que irregular, o filme consegue agradar em seu histerismo. O maior problema de “A Crise” é o mesmo que aflige tantas obras com tais características: A concepção de que, em algum momento, a seriedade adulta deve comparecer à premissa. Enquanto o plot trabalha alegremente o humor negro, o filme se mostra caricato, engraçado. Em algum ponto de sua segunda metade, no entanto, o filme parece sentir obrigação de discutir seu enredo com intenções mais profundas do que simplesmente fazer rir, e nessa desfaçatez do próprio deboche o filme perde em ritmo, em graça e em interesse.

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